Obrigado

Obrigado

Recordo hoje o dia em que iniciei, embora sem ter a noção disso na altura, o percurso do doutoramento que acabei em 2013. Estava na conferência do CIDOC em Atenas, em 2008, pouco tempo depois de acabar o mestrado, a ouvir o Nick Poole e o Gordon McKenna a falar sobre o projecto de internacionalização da norma SPECTRUM e pensei com os meus botões: isto é que era uma coisa interessante para fazer no teu doutoramento, Alexandre (sim… eu falo comigo mesmo…)! Quando voltei muita gente teve de aturar o entusiasmo. A família, o patrão, os colegas de trabalho, o orientador, os professores, os amigos e colegas dos museus, julgo que até os vizinhos tiveram que ouvir falar do projecto. Era algo simples. Traduzir uma norma boa, testar essa norma com um caso prático num bom museu e conciliar tudo isto com a aplicabilidade da norma nas ferramentas de gestão de colecções da Sistemas do Futuro. De 2009 a 2013 todas aquelas pessoas tiveram que lidar comigo a braços com o trabalho de investigação, sobreviver e, acima de tudo, ajudar-me a sobreviver. Já lhes agradeci e ficarei para sempre grato a todos, mas hoje é dia de renovar esse agradecimento porque recebi o Prémio APOM na Categoria Estudo sobre Museologia exactamente pela tese de doutoramento “SPECTRUM: Uma norma de gestão para os museus portugueses“.

Este trabalho pretendeu, desde o início, ser um contributo importante para a gestão e documentação das colecções dos nossos museus e acabou por proporcionar uma parceria excelente entre museus e profissionais de Portugal e Brasil que se concretiza no projecto SPECTRUM PT onde todos poderão encontrar, descarregar e, mais importante, utilizar a SPECTRUM PT como norma para o trabalho diário nos museus.

Apesar de já ter mencionado o agradecimento que fiz aqui no Mouseion, não posso deixar de agradecer (ou voltar a agradecer) à APOM, com um enorme abraço a todos os seus responsáveis, pelo honroso prémio que me foi atribuído hoje (irei guardar esta prenda de natal e o meu reconhecimento a todos vós para sempre), à Sistemas do Futuro, ao Fernando Cabral e a todos os museus colegas e amigos de trabalho que tornaram este trabalho possível, ao Museu da Ciência da Universidade de Coimbra por ter acreditado neste projecto (com um abraço enorme aos seus responsáveis e a toda a equipa), ao Prof. Rui Centeno que me orientou verdadeiramente, à Faculdade de Letras e a todos os colegas e amigos dos museus, à minha família e amigos e, acima de tudo, à Sandra, ao João e à Inês a quem dedico por inteiro este prémio.

Um enorme abraço a todos deste vosso, para sempre grato, amigo!

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Treinamento CIDOC, SPECTRUM PT e Seminário em BH

Treinamento CIDOC, SPECTRUM PT e Seminário em BH

O título deste post resume duas semanas intensivas do outro lado do Atlântico onde conheci melhor a realidade dos museus brasileiros, através dos que os vivem intensamente: os seus profissionais.

Começo por agradecer a todas as instituições responsáveis pelo Treinamento CIDOC, às instituições responsáveis pelo projecto SPECTRUM PT (Português) no Brasil e à organização do Seminário realizado em Belo Horizonte pela oportunidade de ter participado nestas três iniciativas. Em todas elas aprendi muito e a partilha das experiências de todos foi, na minha opinião, o maior factor de sucesso para as três. Não posso deixar de agradecer, e perdoem-me por particularizar, ao meu amigo Gabriel Moore Bevilacqua que tem conseguido mobilizar um conjunto de excelentes profissionais e recursos para desenvolver uma área onde os museus, quase em todo o mundo, são especialmente deficitários: a documentação e gestão das suas colecções.

Treinamento CIDOC

Curso CIDOCO curso de formação do CIDOC (Treinamento CIDOC) preencheu por completo a primeira semana em São Paulo. A recepção aos alunos, imaginem vocês, decorreu no domingo dia 17 de Agosto e contou com a presença de quase todos os participantes no curso. Por si só penso que este facto demonstra o interesse e procura que existe para este tipo de iniciativas no Brasil. Julgo que ao todo este curso tinha 90 alunos, divididos entre uma turma de módulos básicos e duas turmas dos módulos intermédios e avançados. O programa, caso não saibam, é desenvolvido pelo CIDOC juntamente com o Museu da Texas Tech University e teve como parceiros, nesta segunda edição no Brasil, com a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Instituto de Arte Contemporânea e o Centro Universitário de Belas Artes. Eu tive a oportunidade de participar no curso como professor, a convite dos organizadores, tendo a responsabilidade dos módulos 214 (Catalogação de acervos acumulados e recuperação de sistemas descontinuados), juntamente com a Ana Panisset, e 311 (Aquisição de um sistema automatizado: “software de prateleira” ou desenvolvimento sob medida?) com o Stephen Stead. Imaginem lá a responsabilidade que caiu nos meus ombros num e noutro.

O “desenho” deste curso e dos seus módulos pretende suprir as necessidades de formação nesta área, dando resposta às questões que os profissionais de documentação em museus enfrentam no seu dia a dia. Como escolher um sistema, como implementar uma campanha de inventário, como activar um sistema não utilizado, como migrar dados de um sistema para outro, como digitalizar um acervo, como planear o controlo de movimentos ou o controlo de inventário, entre muitas outras, são exemplos das questões que se pretendem desenvolver através de um método específico e centrado na experimentação e participação activa dos alunos durante as sessões de 4 horas.

Para além da minha participação como professor, como poderão compreender, não perdi a oportunidade de assistir a outros módulos e aprender e discutir um pouco mais sobre temas que me interessam particularmente e sobre os quais não temos, como gostaria, uma discussão alargada em Portugal. Uma possibilidade que ficou em aberto, das conversas que tive com a direcção do CIDOC e com os colegas brasileiros da organização, foi a eventual realização deste curso de formação cá em Portugal. Em breve espero poder dar novidades sobre este assunto.

Uma última palavra sobre o curso é directamente sobre os alunos/colegas que aí conheci e participaram nas aulas e outras actividades do curso. Todos vocês foram excepcionais e aguentaram uma semana intensa de trabalho. Fizeram-no sempre facilitando a nossa tarefa enquanto professores, partilhando a vossa experiência pessoal sobre os assuntos discutidos e demonstrando um espírito crítico com uma abertura notável. Foi um privilégio para mim ter aprendido com todos vocês e partilhado um pouco da minha experiência profissional no contexto português. Espero sinceramente voltar a ter a oportunidade de estar com vocês e teremos certamente oportunidades para o fazer.

Workshop SPECTRUM PT e lançamento da tradução portuguesa da norma SPECTRUM

Equipa SPECTRUM PTEsta, como podem compreender, é a menina dos meus olhos. Já passaram alguns anos desde que falei pela primeira vez com o Nick Poole e com o Gordon McKenna sobre o processo de internacionalização desta norma. Essa conversa, tal como quase tudo que acontece na área da documentação em Museus, aconteceu numa conferência do CIDOC (mais tarde perceberão) em Atenas, Grécia. Na altura, pareceu-me ser um excelente tema para o projecto de doutoramento que estava a iniciar e, mais tarde, propus à Collections Trust a possibilidade de uma parceria com uma instituição portuguesa (viria a ser o Museu de Ciência da Universidade de Coimbra) para a tradução e adaptação da norma ao contexto nacional. Mais tarde, na conferência do CIDOC em Sibiu, Roménia (percebem como tudo se passa no CIDOC), conheci alguns colegas brasileiros, entre eles o Gabriel Moore Bevilacqua, e começamos a estabelecer aquilo que viria a ser a parceria concretizada no projecto SPECTRUM PT (de Português e não de Portugal, entenda-se) que teve como objectivo principal a publicação e adaptação aos contextos de Brasil e Portugal da norma.

No final deste processo, que resumi aqui em poucas palavras, e que contou com o contributo de diversos profissionais portugueses e brasileiros e com o importante apoio da Collections Trust, do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, da Pinacoteca e do Museu da Imigração do Estado de São Paulo e do Museu do Café, em Santos, foi publicada a tradução para português da norma SPECTRUM que pretende ser, a partir de agora, um documento único, desenvolvido em parceria entre Portugal e Brasil, à disposição dos profissionais de ambos os países como uma ferramenta que facilite os processos de gestão e documentação das colecções dos museus. Falarei um pouco mais sobre este documento, e sobre o projecto que o acompanha a partir de agora, num outro post específico sobre o assunto.

O workshop que realizamos após o lançamento da norma e de um outro volume da colecção “Gestão e Documentação de Acervos: Textos de referência” que contempla a tradução para português da Declaração de Princípios de Documentação em Museus e das Diretrizes Internacionais de Informação sobre Objetos de Museus: Categorias de Informação do Comité Internacional de Documentação (CIDOC-ICOM) e no qual participaram colegas de diferentes museus brasileiros teve como objectivo reflectir sobre a utilização destes documentos normativos no contexto da documentação e sistema de informação dos museus. Espero sinceramente que possa ter servido para desumidificar este tipo de documentos e desmontar um pouco a complexidade utilizada frequentemente para os apresentar.

Seminário sobre documentação como ferramenta de preservação dos acervos nos museus.

Casa Fiat de Cultura - BHNão será demais, penso eu, referir a importância e actualidade do tema deste seminário. A documentação como uma ferramenta de preservação das colecções é uma ideia que penso que todos os colegas defenderão, mas que está longe de ser na prática, devido aos atrasos existentes nesta área de trabalho dos museus, uma realidade. O seminário pretendeu levantar questões sobre este assunto relacionadas com as políticas (difusão e gestão de acervos), formação e o papel desempenhado pelas instituições internacionais do sector como o CIDOC, por exemplo, na procura de soluções para melhorar a documentação dos museus. A minha contribuição pretendeu reflectir um pouco sobre o papel da investigação em cursos de pós-graduação, tendo como ponto de partida o programa de pós-graduação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (como aluno e professor) e a produção científica que aí se fez ao longo destes anos. O seminário contou com a presença de diversos especialistas na área (Nick Crofts, Nick Poole, Stephen Stead, Gabriel Moore Bevilacqua, Fernando Cabral, Yaci-Ara Froner, Leonardo Castriota, Joaquin Barriendos, Flávio Carsalade, Renata Baracho, Cristina Ortega, Lina Nagel, Ana Panisset) e com discussões bastante amplas sobre este assunto como poderão imaginar pelo programa. Em breve estará disponível o livro com as diferentes comunicações apresentadas.

Foram, como disse no início, duas semanas intensas de aprendizagem, discussão e partilha. Os museus, a museologia e os profissionais brasileiros são uma comunidade muito activa, com problemas semelhantes aos nossos, em escala diferente, mas encarados com um positivismo e energia que dá gosto ver. Espero sinceramente voltar lá e, ainda mais, ter a oportunidade de convidar alguns dos colegas brasileiros para virem a Portugal para partilhar connosco as suas experiências, projectos e realidade.

Para terminar queria deixar, uma vez mais, um enorme obrigado a todos aí no Brasil. Para vocês especialmente fica a vontade de tomar “um chopes e dois pastel” em breve na movimentada São Paulo.

 

São Paulo

São Paulo

No meu dicionário a definição de cidade foi corrigida desde que aterrei em S. Paulo. A cidade é enorme, gigante mesmo. Uma escala que sai do que nos habituamos aqui em Portugal, mas que é compreensível, porque na realidade o Brasil é mais continente do que país e só a grande S. Paulo tem 17 milhões de habitantes, ou seja, mais 7 milhões do que esta velhinha nação europeia. Como todas as cidades grandes tem problemas à sua escala que nos são passados assim que contamos a algum amigo que vamos de viagem para lá, no entanto, e estando ciente desses problemas, garanto-vos que vale muito a pena conhecer São Paulo, muito mesmo!

Eu costumo dizer aos amigos que tenho sorte quando viajo. À excepção de uma estadia meio esquisita em Ceuta, sempre que viajei tive a oportunidade de conhecer locais e pessoas fabulosos. São Paulo não foi excepção. Não é uma cidade como o Rio de Janeiro, com uma beleza natural que nos faz acreditar em Deus, ou uma cidade como Londres, mais organizada, segura e de carácter europeu (com tudo de bom e mau que isso acarreta), mas é uma cidade cosmopolita, com vários pontos de interesse turístico (consegui ir a 4 museus, já lá vamos), com uma vida cultural muito interessante e carregada, sorte minha talvez, com gente do mais simpático e hospitaleiro que existe. Sim, meus caros, o paulista é simpático e sabe acolher!

São Paulo é um espelho enorme do que é actualmente o Brasil. Uma cidade cheia de potencial, em pleno desenvolvimento, com tudo para dar certo, e com tudo para dar errado também, com charme e com miséria, com alegria e com tristeza, com riqueza e pobreza, em que se acredita fielmente ou se condena à partida. O vídeo que encontrei noutro dia no Público retrata bem essa situação, aliás a série de reportagens que o Público tem vindo a publicar é um excelente trabalho de jornalismo, na minha opinião, e consegue reflectir bem o Brasil actual. O país onde a expressão mais usada é “se é assim agora, imagina na copa!” que reflecte a enorme preocupação do seu povo com o actual estado da sociedade e do Estado, reflectida num conjunto de manifestações de que temos conhecimento pelas notícias.

Eu estive lá a trabalho, tal como muitas das pessoas que vão lá. São Paulo é uma cidade de trabalho, como nos dizem diferentes taxistas (um meio de transporte usual e, da minha experiência, muito seguro ao contrário do que me pareceu no Rio de Janeiro quando lá estive) e como transparece da azáfama da cidade e das pessoas no dia a dia, no entanto, não faltam motivos para a visitarmos sem ser a trabalho. Museus, parques, centros culturais, locais de compras, o Mercadão, a Livraria Cultura (meu Deus, a livraria Cultura), restaurantes (pizzarias e churrascarias aos montes), padarias (portuguesas como manda a boa tradição), animação nocturna (que não aproveitei como devia), entre muitas outras coisas que não temos tempo de explorar em apenas uma semana.

Como seria de esperar centrei-me mais nos museus. Levava na lista de indispensáveis a Pinacoteca do Estado de S. Paulo e o Museu da Língua Portuguesa, duas referências e dois desejos antigos para visitar com alguma calma, mas consegui visitar ainda a exposição do David Bowie (sim a que é organizada pelo V&A) que está no Museu da Imagem e do Som e tive a oportunidade de ir à inauguração de uma exposição no Museu AfroBrasil (só deu para conhecer a belíssima arquitectura e as salas onde estava a exposição) que fica no não menos belo Parque do Ibirapuera (aqui e aqui informações sobre o Parque). Uma das coisas engraçadas que aprendi com paulistas meus amigos é que os museus são tratados em diminutivos, normalmente a sigla, ou seja fui à Pina, ao Afro e ao MIS (o Museu da Língua não me recordo de ter diminutivo).

IMG_2398A primeira visita foi ao MIS e à exposição do Bowie, assim recomendava a leitura do caderno de cultura da Folha de S. Paulo por causa da fila que normalmente se forma todas as manhãs para comprar bilhetes. Cheguei uma hora antes da abertura do museu, não porque sou um rapaz precavido, mas porque a hora mudou em S. Paulo no dia em que cheguei e embora eu pensasse que eram 11 da manhã, o relógio oficial do museu marcava umas gloriosas 10 (até nisto tive sorte). Uma hora de diferença que fez com que fosse o segundo da fila, atrás de um simpático médico de Belo Horizonte com quem tive uma boa conversa sobre o Brasil e sobre viagens. A exposição do Bowie é absolutamente fantástica (sou completamente imparcial na análise, porque sou fã desde adolescente). Um percurso coerente e bem montado sobre a sua vida, a música, os filmes, as parcerias, o estilo, a irreverência, etc. com recurso a tecnologia bem agradável e funcional que nos permitia ter som diferenciado (nos auscultadores que nos eram entregues na entrada) conforme o local onde nos posicionávamos no percurso ou mesmo numa determinada sala. Como aspectos negativos posso apontar apenas dois: a proibição de fotografar em toda a exposição (um assunto que discutimos aqui em Portugal ainda há pouco tempo) e o posicionamento de alguns elementos da exposição (dois bancos) que causaram quedas de dois visitantes, porque não estavam bem sinalizados e a exposição é, no MIS pelo menos, bastante escura.

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Assim que saí do MIS fui para a Pinacoteca. Recomendaram-me almoçar por lá, na cafetaria, e sabia que se me despachasse ainda conseguiria ver o Museu da Língua Portuguesa (basta atravessar a rua). A cafetaria, já agora, é muito agradável, tem uma parte ao ar livre com vista para o bonito Jardim da Luz (um nome que fica bem em qualquer lugar se formos benfiquistas) e com boa escolha em comida e bebida. A Pinacoteca é tudo o que eu estava à espera. Um museu centrado nas colecções de arte brasileira (pintura, escultura, desenho, etc) com boas condições, onde se conta de forma cronológica uma parte importante da história artística (e do ensino artístico) no Brasil demonstrando as influências externas e a especificidade da arte brasileira que resulta da sua própria cultura e contextos. Duas notas finais apenas para mencionar a contínua preocupação da Pina no desenvolvimento da sua colecção, de forma a representar a arte no Brasil (julgo que vai até à actualidade) e uma interessante exposição sobre a história da Pinacoteca que nos permite (pelo menos a visitantes menos informados como eu) ter um contexto interessante na posterior visita às galerias.

 

IMG_2388Num salto cheguei ao Museu da Língua Portuguesa, um museu muito conhecido por cá, se bem se recordam foi notícia em todo o lado quando inaugurou e trata, de forma bem interessante, o maior património que temos em comum com o Brasil, o Português. Naquele sábado a entrada foi gratuita, mas não sei se é comum ser assim todos os sábados (já sei sou um sortudo… até porque me esqueci do cartão do ICOM) ou se tratou de uma excepção. A juntar a esse facto tive a oportunidade de ver a exposição sobre o grande Cazuza (descrita aqui) e consegui, no mesmo dia, ouvir e ver a obra de dois grandes nomes da música, Bowie e Cazuza, claro! O museu fica numa antiga estação ferroviária (ainda em utilização pelo que percebi) que foi brilhantemente transformada para receber uma excelente exposição sobre a nossa língua na qual está ilustrada (bem) a sua origem e história até aos nossos dias, com destaque para as diferenças e aproximações entre os países que a usam. O enorme videowall do segundo piso é uma excelente amostra do que a tecnologia consegue fazer pela comunicação nos museus.

A seguinte visita a um museu aconteceu na sexta-feira seguinte, após uma semana de trabalho intenso e profícuo com as(os) amigas(os) que compõem a excelente equipa da Expomus. Fui ao Museu AfroBrasil, mas apenas para a inauguração da exposição “ENTRE DOIS MUNDOS – Arte Contemporânea Japão-Brasil” (a comunidade japonesa em S. Paulo é imensa). Uma visita breve que não permitiu ver o Museu no seu todo e que foi interrompida por um bom motivo: o jantar com amigos que estão a trabalhar connosco no projecto de tradução e adaptação do SPECTRUM no Brasil (sim… que o mundo não é só visitar museus, é também a sua documentação e o convívio que ela proporciona). 🙂

No último dia, antes do martírio que são as viagens de avião de longo curso (o pior das viagens), tive a oportunidade de ir à Livraria Cultura (uma Meca para quem gosta de livros), na Avenida Paulista, e, graças à generosidade de um casal amigo, de conhecer o Mercadão (Mercado Municipal de São Paulo) e de comer uma sande divinal de mortadela e queijo.

No meio de tudo isto, e de muito mais, esqueci-me que estava numa das cidades mais perigosas da América do Sul, esqueci-me que há assaltos a toda a hora em S. Paulo, esqueci-me de todos os avisos que nos dão antes destas viagens e aproveitei para conhecer o que pude.

Não posso deixar de agradecer aqui, por toda a simpatia com que me receberam e acompanharam, à Alessandra (muito obrigado por tudo, viu!), Bia, Renato, Roberta, Lia, Ana Maria, Maria Ignez e toda a equipa da Expomus, bem como às Julianas (as 3), ao Gabriel e ao André. Quando cá vierem espero corresponder à altura!

Webinar BAD – SPECTRUM: Norma de procedimentos de gestão de colecções

Webinar BAD – SPECTRUM: Norma de procedimentos de gestão de colecções

Para os meus amigos que possam estar interessados em ouvir-me sobre o SPECTRUM, apresentarei um webinar* (ver restante programa de webinars da BAD aqui) no dia 19 de Novembro, das 21:30 às 22:30, onde procurarei explicar melhor a norma e a sua implementação na gestão dos museus e das suas colecções. A seguir fica o resumo do webinar e aqui um PDF com mais informações.

A documentação em museus obedece a um conjunto de normas internacionais que se dividem habitualmente em 4 grandes áreas: Estrutura de dados, Procedimentos, Terminologia e Normas Técnicas (intercâmbio de informação, interoperabilidade de sistemas, etc.). Estas normas são, na sua maioria, discutidas e criadas por instituições internacionais, como o CIDOC, comité internacional para a documentação em Museus do ICOM (Conselho Internacional de Museus), no entanto, outras instituições, como a Museum Documentation Association (MDA) do Reino Unido têm desempenhado um papel fundamental na criação e difusão de normas que se tornam uma referência internacional. É o caso do SPECTRUM, a norma inglesa para a gestão de coleções de museus, agora gerida pela Collections Trust que serve de suporte às boas práticas de documentação em diversos países por todo o mundo e que servirá de base para a reflexão e discussão que se pretende gerar neste webinar.

* Para saberem mais sobre este interessante meio de formação da BAD e para se inscreverem (neste ou outros webinars) visitem http://www.apbad.pt/webinars2013.

© Imagem: BAD

OPENCULTURE 2013

OPENCULTURE 2013

Eu podia voltar a Londres todos os meses. Gosto da cidade, da forma como recebem os de fora, da vivência que os londrinos têm do espaço público e a oferta cultural da cidade é realmente infindável. Embora não o possa fazer todos os meses, tenho a felicidade de a visitar, normalmente a trabalho, de vez em quando. Desta feita o motivo foi a conferência sobre Colecções organizada anualmente pela Collections Trust, a OPENCULTURE.

A Collections Trust, conforme saberão, é a instituição que substituiu a (mais conhecida entre nós) Museum Documentation Association, entidade que foi a responsável pelo nascimento da norma SPECTRUM e pelo seu desenvolvimento até 2008. Desde então a Collections Trust tem assumido essa importante tarefa, com base numa estratégia de longo prazo, que passa pela disponibilização da norma de forma gratuita a museus e aos seus profissionais e pela sua internacionalização, através de parcerias estabelecidas com entidades de diversos países que possibilitem a tradução e localização da norma (adaptação ao contexto legal e profissional). O objectivo final, ambicioso devo dizer, é fazer com que o SPECTRUM seja A referência internacional nos procedimentos de gestão de colecções.

Nesse sentido a Collections Trust tem vindo a organizar, aproveitando a realização da OPENCULTURE, reuniões da comunidade internacional que trabalha com a norma (este ano designada SPECTRUM Community Gathering, no ano anterior SPECTRUM Roadmap Meeting) com o intuito de alargar a discussão relativa ao seu futuro. Nestas reuniões têm participado centenas de profissionais de museus do Reino Unido e de outros países que também utilizam o SPECTRUM. Este ano o encontro teve como principal novidade a apresentação de uma dinâmica diferente de desenvolvimento da norma, baseada em 4 elementos centrais, a saber:

SPECTRUM Standard onde se incluem os projectos de localização e tradução da norma, o SPECTRUM Digital Aset Management, o SPECTRUM Schema e o arquivo de versões anteriores do SPECTRUM; SPECTRUM Labs onde serão discutidas novas ideias e potenciais aplicações da norma; SPECTRUM Resources que servem de suporte à implementação e utilização da norma, e; SPECTRUM Community onde estão incluídas todas as pessoas e instituições que suportam e usam a norma a nível internacional.

Estes elementos centrais do programa SPECTRUM tem a sua sustentação na missão da norma, definida pela Collections Trust da seguinte forma:

Our mission as the international community responsible for the development, localization, promotion and support of SPECTRUM worldwide is to ensure that wherever collections are, they are managed accountably, professionally and with due regard to public interest.

O suporte a todo este projecto encontra-se na comunidade SPECTRUM. Um conjunto considerável de pessoas e instituições, divididas por SPECTRUM National Partners (no caso Português o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra), composta por instituições responsáveis pela localização e promoção do SPECTRUM nos diferentes países; SPECTRUM Champions (de que este vosso amigo é exemplo, segundo Nick Poole), composto por pessoas que voluntariamente se comprometem com a promoção da norma e com o suporte necessário à sua implementação; SPECTRUM Users (o principal elemento da comunidade em meu entender), os museus e profissionais que utilizam a norma na gestão das colecções e os SPECTRUM Partners, empresas e instituições que desenvolvem os sistemas de gestão de colecções compatíveis com a norma.

Esta nova dinâmica tem como objectivo lançar as bases de sustentação da próxima versão do SPECTRUM, a 5.0, bem como permitir a implementação, com base na norma, de um conjunto de ideias relativas à filosofia “Create Once, Publish Everywhere” (COPE), ao mapeamento do SPECTRUM com o CIDOC CRM e, em consequência, com um conjunto de diversas normas já mapeadas ao CRM que possibilitam um mais e mais fluído intercâmbio de informação, bem como à criação de ferramentas de formação na norma e avaliação do trabalho de gestão de colecções feito de acordo com os seus procedimentos.

Ainda nesta reunião tivemos a possibilidade de ouvir a Alex Dawson e a Susanna Hillhouse, editoras da versão 4.0 da norma, falar sobre o desenvolvimento da versão 5.0 e do formato encontrado para novas propostas de procedimentos a acrescentar ao SPECTRUM tendo em consideração a proporção gigantesca da tarefa que a Collections Trust tem em mãos. Foi com agrado que ouvi que as novas ideias para procedimentos poderão nascer de qualquer um dos membros da comunidade SPECTRUM como uma proposta, que será depois avaliada por um conjunto de instituições e especialistas, membros da comunidade, de acordo com o que é seguido em comunidades de desenvolvimento de software opensource como o Linux. Uma forma que terá as suas desvantagens, mas que ao mesmo tempo é um desafio importante para todos os membros desta comunidade. Veremos o que o futuro nos trará nesta matéria.

Todas estas e ainda mais informações podem ser recolhidas do vídeo que resultou do live streaming da reunião da comunidade, onde apresentei (a convite da Collections Trust e em representação do projecto português) uma breve actualização do estado de desenvolvimento do SPECTRUM PT (aos 19 minutos começa a minha apresentação).

Já o disse aos parceiros do projecto, mas partilho também com vocês, que o retorno que tive sobre o nosso projecto foi muito positivo, tendo sido destacado o esforço realizado na tradução e a dimensão que o projecto assumiu com a inclusão dos nossos amigos do Museu da Imigração do Estado de S. Paulo e da Pinacoteca do Estado de S. Paulo, instituições dependentes da Secretaria de Cultura daquele estado brasileiro, no projecto de tradução para português e na futura localização do SPECTRUM em território brasileiro (como é óbvio estamos completamente receptivos á participação de outros países da lusofonia. Por isso se conhecerem alguém interessado, partilhem este texto, por favor).

Para acabar importa ainda dizer que a OPENCULTURE é uma excelente iniciativa. Uma conferência de qualidade, bem organizada, actual, com temas muito interessantes, para a qual são convidados especialistas de diferentes países de todo o mundo na área do património cultural e onde são apresentados alguns dos melhores projectos da actualidade tendo em conta a dicotomia tecnologia/património. O programa da conferência, muito intenso, devo dizer, é disso a melhor prova.

Para o ano espero poder voltar e levar comigo alguns colegas de Portugal, que me dizem?

PS: um breve apontamento para indicar o link para os prémios da Collections Trust deste ano.

SPECTRUM PT

SPECTRUM PT

Nos próximos dias termina um ciclo de quase 5 anos em que me bati por um projecto que julgo poder vir a ser fundamental para os museus portugueses e seus profissionais na área da documentação e gestão de colecções. Será apresentada em Coimbra, no Encontro de Utilizadores da Sistemas do Futuro, no âmbito da cerimónia pública de assinatura da SPECTRUM International License Agreement entre a Collections Trust e o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, a página do projecto SPECTRUM PT.

A ideia de traduzir para português e adaptar esta norma ao contexto legal português nasceu com a minha participação na Conferência Anual do CIDOC de 2008, em Atenas, onde conheci o Nick Poole e o Gordon McKeena, membros da Collections Trust, que foram os responsáveis por um workshop sobre a internacionalização do SPECTRUM. Procuravam parceiros a nível internacional para traduzir e adaptar o SPECTRUM a outras realidades e, dessa forma, obter um contributo de escala mundial no desenvolvimento da norma. A ideia cativou-me desde logo e mantive o contacto com os dois responsáveis até conseguir arranjar uma instituição portuguesa interessada no projecto.

Em 2011 o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra manifestou o seu interesse pelo projecto e acordou a assinar, com a Collections Trust, a licença internacional que o torna a instituição responsável pela tradução para português e pela adaptação e promoção da norma no âmbito do território português.

Com esta assinatura, só possível graças à vontade manifestada pelos responsáveis do Museu da Ciência (Prof. Doutor Paulo Gama Mota e Prof. Doutor Pedro Casaleiro), a quem desde já agradeço o interesse no projecto, foi possível criar as condições para realizar, com o apoio da Sistemas do Futuro, a primeira tradução portuguesa do SPECTRUM (versão bruta traduzida por empresa de tradução), depois revista por diferentes profissionais de museus e por mim, a qual foi apresentada como anexo no âmbito do doutoramento em Museologia que apresentei à Faculdade de Letras da Universidade do Porto e cujas provas públicas aconteceram no passado dia 18 de Fevereiro.

O SPECTRUM PT, designação do projecto de agora em diante, inicia agora uma segunda fase. Uma fase que ainda não disponibilizará ao público a versão portuguesa da norma, conforme estava inicialmente previsto, dado o interesse manifestado por algumas instituições brasileiras ter levado as entidades participantes no projecto a decidir por um adiamento da publicação da norma, de forma a possibilitar a inclusão daqueles novos parceiros e a publicação da norma, em Portugal e no Brasil simultaneamente, nas condições que serão anunciadas no encontro referido.

SPECTRUM Antecipate

Como compreenderão é um momento feliz para mim e por isso não posso deixar de agradecer aqui a todas as pessoas e instituições que tornaram possível a sua concretização:

Collections Trust
Museu da Ciência da Universidade de Coimbra
Sistemas do Futuro
Nick Poole
Gordon McKenna
Alex Dawson
Susanna Hillhouse
Prof. Doutor Paulo Gama Mota
Prof. Doutor Pedro Casaleiro
Prof. Doutor Rui Centeno
Fernando Cabral
Equipa do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

Agradeço também ao Gabriel Bevilacqua Moore pelo interesse e entusiasmo com que aderiu ao projecto e às instituições brasileiras que agora fazem parte deste projecto: a Secretaria de Cultura do Estado de S. Paulo, a Pinacoteca do Estado de S. Paulo e o Museu da Imigração do Estado de S. Paulo.

Por fim não quero deixar de agradecer também a todos os colegas e amigos que ajudaram na tradução e revisão do SPECTRUM. Foram inexcedíveis no apoio e essenciais para a tradução da norma.

A todos um grande obrigado por terem aderido e tornado possível o SPECTRUM PT. Será certamente um marco importante no panorama da gestão e documentação de colecções dos museus portugueses e brasileiros e de outros países da lusofonia que se interessem pela utilização da norma. Espero que possam aderir em massa à utilização desta norma, afinal o projecto só terá o sucesso que os museus e os seus profissionais lhe permitirem.

Alteração: menção da 2ª editora da versão 4.0 do SPECTRUM.