As mais recentes notícias sobre o Museu da Ciência da Universidade de Lisboa são preocupantes e merecem de todos nós uma reflexão profunda que poderá ser aproveitada para reflectir também sobre o estado dos museus e museologia em Portugal.

Em primeiro lugar importa destacar um momento importante no actual contexto museológico que foi a divulgação de um documento estratégico para os museus. Importante porque marca uma posição de preocupação por parte do sector político (e isso é de louvar), mas também porque decorre numa altura em que os compromissos políticos com a área cultural são cada vez menores e agravados dia a dia com a (desculpa da) crise. Tenho noção que o documento estratégico que o IMC apresentou não é especialmente afirmativo, mas demonstra linhas orientadoras que podem ser debatidas, contestadas, apoiadas ou simplesmente esquecidas, mas que existem e são conhecidas do grande público e da comunidade museológica. A respeito deste plano gostava ainda de destacar o excelente texto que a Maria Vlachou publicou no Musing on Culture (os meus parabéns pelo blog, Maria) e com o qual concordo quase na integra. O debate sobre uma nova estratégia(s) para os museus é importante e cabe ao IMC, mas também a todos nós, a sua promoção e concretização.

No entanto, este momento importante não evita situações como a que nos faz escrever este texto ou como a que aconteceu e está a ser também amplamente difundida sobre o encerramento do Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês, em Silves, devido a dificuldades financeiras. Não as evita, porque devia ter acontecido há mais tempo. Porque os modelos de gestão, a capacidade das tutelas em termos financeiros, a proliferação desmesurada de museus por todo o país, entre outros factores não foram discutidos, pensados, planeados com antecedência e critério. Assim todos os esforços que a Rede Portuguesa de Museus empreendeu, sem grande força e meios (como acontece por exemplo com as bibliotecas e arquivos), são infrutíferos de uma forma geral.

Falta saber então porque razão está agora ameaçada a continuidade do Museu da Ciência da Universidade de Lisboa, no âmbito da restruturação do Parque Mayer e zona envolvente na qual estão envolvidos os museus da politécnica.

Segundo penso ter percebido da leitura do relatório (poderei estar enganado, mas corrijam-me se for o caso), o museu acaba por não ter uma colecção significativa quando comparada com alguns dos seus similares europeus (que me apontem um museu português que o consegue) e por isso não deve ser considerado um museu e ter estrutura autónoma, mas sim ser integrado, como uma ala, no contexto de um novo e alargado Museu Nacional de História Natural.

Logo à partida a premissa parece-me errada. O Museu da Ciência, para além da história enquanto instituição, preserva história da Universidade (vejam-se os casos dos restauros dos laboratórios históricos) que não pode ser integrada, na minha opinião, num museu de História Natural. Por outro lado, o factor colecção não pode ser a único ponto de avaliação que permite uma opção como a mencionada. As colecções constróiem-se, completam-se, estão sempre em crescendo. Juntando isso à capacidade que tem sido demonstrada, referida pelo próprio relatório, sobre a capacidade de preservação e cuidado com a colecção que é assegurada pela equipa do museu, vemos que é um argumento que me parece pouco válido.

Na minha opinião não se devia seguir este caminho. Deveria seguir-se o caminho já seguido, a meu ver com sucesso, pela Universidade de Coimbra, embora com algumas adaptações à realidade histórica dos museus da UL e da própria Universidade. Um museu, ou conjunto de museus, com uma unidade de gestão única, com verdadeira capacidade de planeamento, com boas equipas, integrado no trabalho e investigação que a UL desenvolve hoje em dia, enfim… um museu (ou um conjunto de museus sobre a mesma unidade de gestão, repito), como o que se poderia repetir também na Universidade onde estudo, que poderia trazer reais benefícios à comunidade científica e ao público em geral por ter a capacidade de ligar estes dois sectores através de uma comunicação eficiente.

Não sei se poderei estar em Lisboa no debate no próximo dia 22, mas deixo desde já expresso um sincero agradecimento ao Prof. Doutor António Sampaio da Nóvoa, Reitor da UL, por esta iniciativa. Espero que seja participada conforme merece.