Madrid: uma cidade de museus ou uma cidade de pessoas que vão a museus? – Maria José de Almeida

Madrid: uma cidade de museus ou uma cidade de pessoas que vão a museus? – Maria José de Almeida

Recentemente, enquanto bolseira do Deutsches Archäologisches Institut, vivi quatro semanas em Madrid. A escolha do verbo é propositada. Já tinha estado em Madrid várias vezes, mas nunca tinha vivido na cidade. E, no caso de Madrid, isso fez toda a diferença.

As vezes em que estive em Madrid deixaram-me a sensação de que não gostava da cidade. É fácil, como turista, não gostar de Madrid. Temos que convir que o centro histórico não tem muito interesse comparado com o de (tantas) outras cidades espanholas. A própria noção de centro histórico é difusa, sobretudo se pensarmos que o núcleo histórico de Madrid é… Toledo. A catedral de Almudena é provavelmente a catedral mais feia da Europa, coisa que só não afirmo com certeza porque não conheço todas. E, a juntar a isto, há um óbvio problema de escala: Madrid é muito grande. Se o turista não se afasta do núcleo Plaza Mayor-Sol-Cibeles, é como tentar ver um Rambrandt a 20 cm de distância da tela. Não se percebe nada.

E depois há os museus. Que também são uns se os vemos como turistas e outros se lá vamos como quem vive na cidade. O privilégio de ter vivido em Madrid durante um mês (também) foi esse.

Fui aos museus como qualquer madrileño vai: à tarde, no fim de um dia de trabalho, ao fim de semana com a família. Podemos então começar por aqui. Os museus estão cheios de gente que vive na cidade.

Claro que isto é uma afirmação completamente empírica. Não me estou a basear em estatísticas de visitantes, em perfis de públicos, nem em qualquer instrumento de análise digno desse nome. E, provavelmente, estou a meter neste saco muito turismo interno espanhol: o meu ouvido não distingue o castelhano de Madrid daquele que se fala em Valência ou Saragoça, por exemplo.

Mas não é apenas por quase só ter ouvido falar espanhol à minha volta nos museus que digo isto. Sobretudo ao fim de tarde, sobretudo nas exposições temporárias, os visitantes pareciam gente que terminou o dia de trabalho e, com um compañero ou compañera, antes de ir para casa, passou pelo museu. Como um dia depois, se calhar, passaram pelo bar de tapas ou, no dia anterior, tinham ido às compras. Fragmentos de conversas ouvidas aqui e a ali ajudaram a compor esta impressão. As visitas guiadas também. No museu Thyssen, no Reina Sofia, integrei-me em animados grupos castelhano-falantes que, se não eram maioritariamente constituídos por madrileños, disfarçavam bem. Ainda que alguns pudessem ser, como eu e outros estudantes estrangeiros, madrileños temporários. A procura deste tipo de actividades é, aparentemente, grande: em quatro semanas não consegui lugar nas “visitas fora do horário” do museu Lazaro Galdiano.

Muitas vezes, noutras cidades e até na minha, os museus sentem-se como um corpo separado do quotidiano dos que nela habitam. E, atenção, não digo isto com um sentido negativo: pode ser muito interessante que os museus se assumam na cidade com um carácter excepcional e único, algo que se procura e valoriza por isso mesmo. Em Madrid, contudo, a sensação que tive foi outra: os museus fazem parte do quotidiano da cidade e isso é, igualmente, muito interessante.

Regressada a Lisboa, fiz o mesmo: no fim de um dia de trabalho, passei pelo museu. Fui ver a exposição As idades do mar na Fundação Gulbenkian. Diferenças em relação aos museus de Madrid? Só(?) as pessoas que lá estavam dentro.

É verdade que há uma grande evolução no público dos museus portugueses nas últimas décadas. Lembro-me, nos idos de 70 e 80, de ir a museus com a minha mãe e os meus irmãos e sermos os únicos portugueses no meio de turistas. Neste fim de tarde de dia de semana na Gulbenkian já não foi assim. Havia mais portugueses e, sem grande margem de erro, todos lisboetas (turismo interno, como dizia o outro… não temos). Mas eram os “suspeitos do costume”: gente ligada ao ensino nos seus vários graus (alunos e professores universitários, professores do básico e secundário), gente com profissões ligadas, se não às artes e espectáculos, pelo menos, às humanidades. Como os portugueses falam (muito) menos que os espanhóis, isto é uma impressão, literalmente, a olho. Além disso, todos pareciam ter ido ao museu com a consciência da singularidade, e seriedade, do acto.

Haverá certamente muitas razões culturais, sociais e económicas que explicam isto.

Ficando só pelas últimas, em Madrid, tipicamente a entrada em museus custou-me 6€ por visita. A entrada na exposição na Gulbenkian custou 5€. Mais caro em Lisboa, portanto. Porque 5€ são cerca de 41% do valor médio da hora de trabalho em Portugal e 6€ representam 29% do mesmo valor em Espanha, se os senhores do Eurostat não se enganaram nas contas. Por outro lado, o leque de descontos e isenções nos museus de Madrid é bastante mais abrangente do que os de Lisboa. Por ser aluna universitária, por exemplo, tive entrada gratuita no museu Reina Sofia e o mesmo acontece com os desempregados em todos os museus que visitei. Por cá, os descontos para estudantes são cada vez mais restritos e a entrada gratuita dos desempregados só se faz desde Março de 2012 nos museus, monumentos e palácios tutelados pela SEC. Curiosamente nas páginas oficiais dos museus tutelados pela SEC (não fui sistemática, por isso posso estar enganada) não encontrei referência a esta isenção, tendo apenas encontrado menção a descontos para desempregados na Cinemateca e nos teatros nacionais D. Maria II e S. Carlos.

Mas não será só o custo do acesso aos museus que contribui para haver menos lisboetas nos museus de Lisboa que madrileños nos museus de Madrid. E certamente não é isso que justifica a diferença de atitude daqueles que vão aos museus nas duas cidades. Pode argumentar-se que o facto dos museus não fazerem parte do quotidiano das cidades portuguesas é só mais um sintoma dos fracos índices de frequência de todos os equipamentos culturais. Talvez. Ou talvez não… conheço muitas cidades portuguesas em que a biblioteca da rede de leitura pública é presença integrante da vida dos seus habitantes. Já a diferença de atitudes… bom, essa dava pano para mangas e eu não serei a pessoa mais habilitada para a explicar. Limito-me a constatar.

Os museus de Madrid são sem dúvida extraordinários nas colecções, na museografia, na programação. Mas não me parece ser isso que os faz uma referência no panorama museológico europeu. Tendo vivido lá durante um mês, eu arriscava dizer que, mais do que uma cidade de museus, Madrid é uma cidade de pessoas que vão a museus.

As pessoas são as cidades que são as pessoas que são as cidades. Nada como uma grande cidade, como Madrid, para perceber isto. Os museus serem parte desta equação é meio caminho andado para nos entusiasmarmos com eles. Mesmo com os fechados. Como o Museo Arqueologico Nacional, que não visitei, e me deixou entusiasmadíssima com a próxima visita. Já estou a salivar, à espera do anúncio da data de reabertura, sabendo que assim que possa ponho-me a caminho de Madrid para ir ao museu. Entusiasmo. Haverá melhor que se possa esperar de um museu? Haverá melhor que se possa esperar de uma cidade?

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=9yXMW6xZDdo]

(não deixem de ouvir com som, se possível bem alto)

Maria José de Almeida

Maria José de Almeida é licenciada História, variante Arqueologia, pela Universidade de Lisboa, tendo obtido o grau de mestre em Arqueologia Romana na Universidade de Coimbra. Actualmente integra o programa de Doutoramento em Arqueologia e Pré-história da Universidade de Lisboa, na especialidade de Arqueologia. É autora de vários artigos publicados sobre a temática da ocupação romana no território de Augusta Emerita. Entre 1996 e 2002 trabalhou no município de Santarém, desenvolvendo acções de arqueologia urbana em núcleos históricos. Foi responsável pela primeira fase da Carta Arqueológica de Santarém e pela organização da Reserva Municipal de Bens Arqueológicos. Foi comissária da exposição temporária De Scallabis a Santarém (MNA, 2002). Desde 2003 exerce funções na Câmara Municipal de Cascais, onde implementou o Sistema de Informação dos Museus de Cascais e coordenou a elaboração do respectivo Manual de Procedimentos. Ainda em Cascais, dirigiu o Gabinete de Arqueologia e, actualmente, desempenha funções na Divisão de Ordenamento do Território, tendo coordenado a integração do referido sistema de informação com a plataforma SIG da autarquia. Integra os corpos gerentes da Associação Profissional de Arqueólogos (APA) desde 2002, tendo sendo presidente da direcção no triénio 2007-2009.

Curriculum detalhado aqui.

© Imagem: Ministerio de Educación, Cultura y Deporte | Museo Arqueológico Nacional

Mais e novos museus – Joana Sousa Monteiro

Mais e novos museus – Joana Sousa Monteiro

Em resposta ao repto lançado por Alexandre Matos para participar neste Speaker’s Corner a partir do mote lançado no seu recente post, “Queremos novos museus?” optou-se por relacionar o post com o artigo “We Built Way Too Many Cultural Institutions During the Good Years” da autoria de Emily Badger, publicado em Julho passado no site The Atlantic Cities Place matters, com base num estudo efectuado pela Universidade de Chicago. (http://www.theatlanticcities.com/arts-and-lifestyle/2012/07/we-built-way-too-many-cultural-institutions-during-good-years/2456/#.UN8wtEY0HsA.facebook)

O estudo Americano incidiu sobre o recente boom de criação de entidades culturais (museus e outras), o estado do panorama actual e de como a procura se relaciona, ou não, com a oferta. Foram efectuados inquéritos a 725 instituições culturais que foram criadas nos EUA entre 1994 e 2008. Dizem os autores do estudo que o número de instituições criadas ultrapassou em muito a capacidade da procura, causando agora demasiadas situações de escassez financeira e de espaços muito pouco frequentados. Ainda segundo o mesmo relatório é evidente a ausência do factor “procura” em muitos dos projectos iniciados nesse período de mais vastos recursos, que quase sempre incluíram a construção de novos edifícios. “What we concluded is that there’s a lot of short-term thinking going on. A lot of institutions felt very successful, however they weren’t really thinking down the line.” A principal recomendação daquele estudo é o incentivo à racionalidade e à identificação atempada da procura, enfim, ao planeamento a longo prazo que limite decisões irracionais e apaixonadas.

Sabemos que a realidade americana terá pouco em comum com a portuguesa e cremos que uma boa dose de paixão será sempre tão bem vinda quanto necessária à criação e à gestão de projectos culturais e museológicos. No entanto, e no que toca ao universo dos museus públicos, os temas do fervor construtivo de entidades culturais, da falta de planeamento a longo prazo, ou dos projectos de investimento em novos museus que aparentam não ter em conta o panorama museológico pré-existente, talvez não nos sejam assim tão estranhos.

Em tempos em que quase todos os dias se leem notícias sobre diminuição de recursos financeiros e humanos, e mesmo sobre o fecho de museus, como explicar a manutenção da energia propositiva para a criação de novas entidades?

Pergunta o Alexandre Matos – e tantos de nós – para que queremos sempre mais museus? Mas será que os museus são criados porque “nós” queremos?

Como tão bem explicou Stephen Weil, a procura que motiva a criação, ou mesmo a existência de museus, foi sendo deslocada de o museu dever ser “sobre algo”, para dever ser “para alguém”. A razão de ser dos museus está cada vez mais nos públicos e utilizadores (a procura), e menos na imagem espelhada dos seus promotores, coleccionadores ou políticos (criadores da oferta).

Sabe-se que se criam museus para conservar e divulgar colecções consideradas importantes para os seus públicos potenciais e comunidades próximas, e/ ou para os seus promotores; para investigar e melhor representar um território; como também para honrar compromissos políticos de vária ordem.

Também se percebe que se criam museus para evitar males maiores: para “ocupar” edifícios tornados devolutos; para salvar a memória de empresas, fábricas ou sectores económicos em falência e risco de esquecimento, transformando conjunturas deprimidas em oportunidades potencialmente fantásticas de estudo e divulgação de patrimónios.

Criam-se museus, ainda, por interesse financeiro. Para tornar mais atractiva e rentável uma região ou cidade, não só ou não tanto através das receitas de bilheteiras, lojas e concessões, mas sobretudo por meio das externalidades indirectas que os museus podem gerar pelos sectores do alojamento, restauração e outro comércio.

Num cenário ideal, e aparte questões de ordenamento do território museológico que não nos cabe desenvolver, todas as ideias de museu fariam sempre sentido e teriam o seu justo lugar, independentemente da tipologia, dimensão ou tutela, desde que cumpridoras das funções museológicas, tendo em conta que se tratam de exercícios democráticos de expressão, potenciais catalisadores de riqueza cultural.

O problema está apenas no detalhe dos recursos que, perante a importância e o valor das colecções e dos propósitos educativos e sociais dos museus, deveria mesmo ser só um detalhe. E esse detalhe era suposto ser resolvido pelas instâncias públicas que reconhecem a importância dos museus, ou pelas entidades privadas que têm, felizmente, a ousadia de os criar. E assim foi durante muito tempo, em que os museus eram muito menos, e os recursos pareciam não faltar.

Actualmente, as entidades públicas (portuguesas, europeias, até americanas) têm evidentes dificuldades em manter os museus existentes, e os privados deparam-se com limitações semelhantes, não raras vezes solicitando ajuda das instituições públicas para colmatar a deficiência das suas capacidades de financiamento.

Mais do que numa recessão, parece que estamos num “reinício” económico, social e cultural (McGonagle, 2012, “A Resetting. Not just a recession”). Sabendo que a elasticidade dos recursos financeiros ultrapassou os seus limites e que os modos de viver em sociedade estão mesmo em fase de profunda alteração, resta-nos o planeamento responsável e lúcido.

Deveria, então, depreender-se que a evidência da escassez de recursos teria directas implicações sobre os projectos de criação de novos museus. Essa evidência exigiria, também, atento planeamento a longo prazo incluindo o cálculo da capacidade da procura, não só para poder prever o grau de retorno do investimento (em termos directos ou indirectos não financeiros) que permitisse o funcionamento dinâmico do museu a longo prazo, como também para antecipar a correspondência entre os objectivos dos futuros museus e os seus efeitos junto dos públicos ou comunidades próximas.

É preocupante a ameaça, por vezes concretizada, de extinção e de “fusão” de museus. Não obstante, e quando já se pensava impossível, assiste-se também, com surpresa, a projectos de criação de museus novos, de âmbito central, regional e local. Sinais de esperança e de optimismo, sem dúvida. Mas nem sempre tem sido evidente o respectivo planeamento sobre o detalhe dos recursos, ou sobre o impacto no contexto museológico pré-existente.

É curiosa a força da tentação por criar novos museus. Não tanto de renovar os existentes, de melhorar ou de mudar as suas instalações, de incorporar novas colecções em museus bem geridos, de alterar os seus modos de funcionamento e os seus modelos de gestão, mas sim de criar novos, com tudo novo. De preferência “museus vivos”.

Se ainda houver recursos que sobrem ou que se possam criar para lá da imprescindível orçamentação suficiente para o funcionamento dinâmico dos museus existentes, dê-se prioridade à modernização, remodelação ou ampliação de tantos museus que são, por vezes, menos lembrados e que não deixam de conservar e documentar patrimónios significativos.

Remodelar museus, não só pela óbvia razão do aproveitamento, ainda que parcial, de colecções, espaços e serviços existentes; também pela razão do reconhecimento do valor do trabalho feito, do espírito dos lugares e dos objectos, da investigação e documentação tantas vezes existente mas esquecida ou julgada não aproveitável para uma instituição que se quer moderna e portanto nova, diferente. Exemplos recentes, de Norte a Sul do País, demonstram que é possível remodelar criando a sensação de novidade, tão importante para a atracção de financiamentos e de incorporações.

Nem contra novos museus, nem pela teoria “do ajuste de contas” aritmético, em que por cada museu encerrado ou “fundido” se poderia então criar um novo. Mas mais, no tempo presente, pelo planeamento atento e pelo investimento na renovação e modernização possível dos museus existentes.

Se temos mesmo que escolher, então preferimos a qualidade à quantidade. Museus melhores; e não necessariamente novos museus, talvez seja o que mais queremos, Alexandre.

Joana Sousa Monteiro – Museóloga.

Pós-graduada em Museologia e em Gestão Cultural. Desde 2010 membro do Gabinete da Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, Catarina Vaz Pinto, com a coordenação do Grupo de Trabalho para a Criação da Rede de Museus Municipais de Lisboa, entre outras funções. Foi Coordenadora-adjunta da Rede Portuguesa de Museus (Instituto Português de Museus) de 2000 a 2010.

O Meu Museu é Melhor que o Teu – Cláudia Camacho

O Meu Museu é Melhor que o Teu – Cláudia Camacho

– Podia chamar-se “O meu museu é melhor que o teu”. O que achas?

– Estás a gozar…

– Não…

A ideia base era uma: acercar o meio museológico a um público mais generalista, não tão conhecedor da profundidade temática dos museus. E o rasgo inicial fez-se logo através do nome dado ao hipotético programa televisivo online (Speaky TV): “O meu museu é melhor que o teu”. Quem o pensou foi Fernando Alvim, comunicador radiofónico habituado a chegar a grandes audiências; quem teria de o aprovar seria a pessoa que iria dar a cara pelo projecto, neste caso, eu. Alguém totalmente fora das lides televisivas e sem qualquer preparação em apresentação de programas mas com uma experiência na área da curadoria e que, em todos os seus módulos formativos, incentiva os profissionais de museus a inovarem, a organizarem de forma mais apetecível as suas colecções, os percursos, a leitura singular dos objectos num contexto colectivo, a criarem novas interpretações e discursos conceptuais, a fomentar o regresso do visitante ao museu através de exposições temporárias. Em suma: a reflectir sobre a função social do museu e o carácter da experiência que o visitante, independentemente da idade, leva da visita que faz ao mesmo.

À primeira vista o nome dado ao programa pareceu-me arrojado, se tivermos em conta o ambiente formal e formalizado à volta dos museus nacionais. Mas se o nosso objectivo era desformatar essa noção teríamos então de nos afirmar de alguma maneira e chegámos à conclusão de que iríamos avançar com o título do programa tão, digamos, coloquial. A receptividade que tivemos em relação aos primeiros museus contactados fizeram-nos constatar que há uma vontade imensa em tornar o museu um espaço acessível a todos. E é esse também o principal objectivo do programa.

O facto de pedirmos que seja sempre o director do museu a nos receber tem a sua justificação: é este quem tem nas suas mãos as rédeas e parte do destino do museu que dirige (apesar das habituais contigências hierárquicas institucionais: autarquias, IMC, Rede Portuguesa de Museus, Secretaria de Estado da Cultura, etc). E sabemos que há directores mais activos do que outros. E directores mais conscientes da necessidade de reflexão e de mudança de práticas museológicas. O museu é também o retrato do director que tem. E, neste programa, damos tempo de antena para que as mais-valias do seu museu sejam divulgadas.

O programa “O meu museu é melhor que o teu” pretende, sem qualquer pretensiosismo, agitar alguma estabilidade instalada. Começámos numa fase embrionária (os museus-cobaia, salvo seja, foram os da Carris, Farmácia e Fado) e esperamos que o projecto possa vir a transformar-se numa referência na área. Se conseguirmos que mais pessoas visitem os museus nacionais ficaremos semi-descansados. A outra metade deixamos a cargo dos profissionais de cada museu e ao visitante, pois este pode ter um papel muito mais activo na divulgação do que nós pensamos.

Cláudia Camacho

Cláudia Camacho | Curadora Independente. Doutoranda em História da Arte (Facultad de Bellas Artes, Universidad Complutense, Madrid) desenvolve, actualmente, a sua tese de doutoramento sob Menção Europeia. Comissariou as exposições: High Speed Press Plate de José Luís Neto (CBA, Madrid); Se Busca Memoria Perdida de Kristoffer Ardeña (Centro 14, Alicante); Representação Portuguesa no DVD-Project (Fundação Telefónica, Peru); Contemplaciones (Festival Loop, Barcelona); For Nothing de Pedro Torres (Round The Corner, Lisboa). Curadora residente convidada pela Academy of Fine Arts and Design (Bratislava, Eslováquia) para o European Month of Photography/09, em Bratislava. Curadora portuguesa convidada para projecto Jugada a 3 Bandas, Camera Oscura, Madrid|12 e Arte Santander|12, com a exposição Histórias e Prazeres de quem Dorme (Ana Rito, Cecilia del Vale, Margarida Paiva e Johann Ryno de Wet). Organizou o Ciclo de Debates da ARTE LISBOA 2011. Formadora do módulo “Planificação e Organização de Exposições” na Restart – Instituto de Criatividade Arte e Novas Tecnologias. É coordenadora do projecto português AntiFrame – Independent Curating Project.
Museumnext 2012 – Maria van Zeller

Museumnext 2012 – Maria van Zeller

Este ano o Museumnext teve lugar em Barcelona nos dias 24 e 25 de Maio, a Sistemas do Futuro esteve presente nesta grande conferência internacional. As expectativas eram muitas, pois o programa baseava-se no Museums and Web 2012 que teve lugar em Abril em San Diego (Califórnia). Esta última, na qual a Sistemas Futuro participou em edições anteriores, é o maior evento internacional na área das novas tecnologias da informação e museus que nos permite manter actualizados nestas áreas, pois é um evento que perdura pelo tempo na medida em que funciona como uma rede de partilha de projectos e ideias em várias plataformas e redes sociais.

A apresentação foi no CCCB – Centre de Cultura Contemporània de Barcelona, com a participação de mais de 400 pessoas, em Março já estava esgotado. Na sessão de abertura, estiveram presentes Jim Richardson da SUMO, Marçal Sintes como anfitrião, destaco o discurso proferido pela Conxa Roda que teve especial empenho nesta edição. Recordo que, no encontro da Sistemas do Futuro em Portimão a Conxa Roda (na altura a trabalhar no Museu Picasso, agora no MNAC – Museo Nacional d’Art de Catalunya) foi nossa convidada para apresentar uma comunicação sobre a Web 2.0. Nancy Proctor (Head of Mobile Strategy and Initiatives Smithsonian Institution) abriu o primeiro painel com uma reflexão sobre quais deverão ser as estratégias para as tecnologias móveis que os museus devem adoptar dando exemplos da sua experiência.

Uma das presenças importantes no atrium da conferencia foi um posto de atendimento da Wikipedia, nomeadamente do grupo GLAM – Museums Collaborating with Wikipedia (http://www.glamwiki.org), onde estiveram representantes da Holanda, Espanha e EUA, estes últimos com a apresentação de um projecto no Museu de Indianápolis. Estas colaborações assentam em tecnologias QR-Code com ligações a páginas wiki.
Pode ver este projecto em: http://en.wikipedia.org/wiki/Broad_Ripple_Park_Carousel No caso apresentado do Museu Miró, foi explicada na prática como esta pareceria instituição/Wikimedia Foundation foi aplicada. O museu fez um workshop onde estiveram presentes os membros da equipe da área da documentação e um “wikipidian”, que os ensinou a desenvolver uma página wiki de objectos museológicos, mais tarde editaram outras com a ajuda do um “wikipidian” contratado para tal. Uma das vantagens assinaladas foi a rapidez da tradução dos conteúdos para a rede wiki com recurso ao “crowdsourcing” (trabalho colaborativo com recurso às internet de uma forma voluntária). Pode ser visitada uma página de uma peça em: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Farm_(Mir%C3%B3)#History, onde é visível o uso do QR-Code na legenda da exposição para acesso à página wiki, reconhecendo a língua definida no telemóvel do visitante. Uma outra vantagem da abordagem de uma página wiki prende-se com a legibilidade, pois permite inúmeras ligações a outras páginas, e a acessibilidade pois a formatação está de acordo com as normas da W3C (Grupo Internacional que promove a acessibilidade para a internet).

Deixo aqui um reparo interessante que se prende com a abertura da Wikimedia Foundation às instituições, isto porque integrei um grupo de trabalho no MW2010 (Museums and Web 2010 em Indianapolis) que abordou este tema. Na época uma instituição não podia publicar informação na Wikipédia pois alegavam que não garantia um dos princípios que se prende com garantia de isenção das publicações, pois nunca poderia ser isenta de opinião sobre si própria.

Um dos temas tecnologicamente mais evoluídos foi o uso de realidade virtual, quer na sua utilização em visitas guiadas às exposições, quer como forma de cativar públicos. Se é possível fazer aparecer numa parede um dinossauro, imaginasse o que se pode colocar numa exposição, e ser visualizado num tablet ou numa tela. Estes exemplos, pelo facto de a tecnologia estar ainda em período de testes, foram apenas demonstrados. Um outro projecto, já em período de implementação, é de uma “app” intitulada “Eye Shakespeare”, desenvolvido pela Universidade de Coventry e a Shakespeare Birthplace Trust http://www.shakespeare.org.uk/explore-shakespeare/eye-shakespeare-app.html. Nesta aplicação é possível com o uso do 3D, visualizar a última casa de Shakespeare. Os visitantes que se dirijam até ao local (onde não existe a casa), apontam o tablet e surge a imagem da casa em 3D. Ao tirarem uma fotografia com o tablet, surge no ecrã a imagem dos visitantes em frente à casa, também é possível ir a uma loja adquirir a imagem impressa, funcionando como uma recordação da visita. 

Os dispositivos móveis foram fortemente abordados nesta edição do Museumnext, com a apresentação de projectos que já “ultrapassam” a “simples” visita guiada multimédia, pois foram apresentadas aplicações nativas para estes dispositivos, as chamadas “app`s”, nomeadamente um projecto do Van Gogh Museum onde é possível interagir com os trabalhos do artista, por exemplo é possível identificar através de um pintura de uma vista da cidade a correspondência com o local na actualidade.

As redes sociais já não são uma novidade temática neste tipo de conferências, mas o que se analisou foi uma reflexão sobre as instituições na WEB 2.0. Para analisar esta presença está disponível (versão beta) no site www.museum-analytics.org os dados estatísticos dos museus nas principais redes sociais. Uma outra abordagem prendeu-se com os conteúdos que estas instituições colocam nestas redes e como se facilita a relação entre o público virtual e o museu. Refiro-me à parte de criação de conteúdos para estas plataformas. No LACMA – Los Angeles County Museum of Art, foram convidados artistas contemporâneos locais para se inspirarem e criarem novas criações de arte, cuja divulgação seria facilitada pelo museu (na sua edição), e mais tarde na sua divulgação nas redes sociais. Agradou-me particularmente, o cruzamento artístico que estas obras proporcionaram, como é exemplo disso a criação de um poema por uma poetisa sobre os jardins do Museu e sua publicação online criou uma onda de participação no Facebook, “Nunca um poema foi tão comentado”, são palavras da Amy Heibel na sua apresentação sobre o projecto “Arstistics Applications” no Museu.

Em termos de tecnológica em bases de dados para colecções online, foram apresentados projectos que apostaram em sistemas comunicantes entre base e dados, para permitir o uso da informação para além das próprias colecções online nas páginas das instituições, como é o projecto da Europeana. E também projectos criativos de estudantes que criaram uma espécie de Facebook de figuras históricas, apenas com recurso a “linked data”, informação estruturada disponibilizada pelas instituições Europeana e pelo Museu Picasso.

Foi muito gratificante a participação nesta edição do Museumnext, pois além de ser um excelente veículo de informação sobre a realidade dos Museus e as novas tecnologias da informação, é também um local de convívio e um veículo facilitador de contactos, muito além da conferência, pois esta rede mantém-se na Internet e a Sistemas do Futuro é a única empresa Portuguesa, que eu tenha conhecimento a ter presença nestes grupos de trabalho internacionais. Visite o site do evento – http://www.museumnext.org

Maria van Zeller (mvanzeller@sistemasfuturo.pt)

Desabafos a propósito de Património Cultural e Normalização – Maria José de Almeida

Desabafos a propósito de Património Cultural e Normalização – Maria José de Almeida

Quem me conhece sabe que sou uma mulher de normas. Adoro a sigla ISO.

E isto tem uma explicação muito simples: sou preguiçosa. Tudo que sirva para me poupar trabalho tem a minha adesão imediata. Se existe uma norma, não é preciso perder tempo a problematizar, conceptualizar e justificar opções: alguém já o fez por nós e deixou pronto a usar. O que é que se pode querer mais?

Bom, pode querer-se que as normas façam sentido.

Em geral, fazem. Em geral são o resultado do trabalho de gente séria, que se esforçou para encontrar a melhor solução para um problema que afectava muita gente. Fazer uma norma é trabalhar para o bem comum, é do mais nobre que há.

Por isso, no momento em que inicio a recolha e tratamento de dados que quero analisar numa perspectiva espacial, fiquei toda contente quando descobri que existe uma directiva que estabelece uma infra-estrutura de informação geográfica na Comunidade Europeia (Inspire). Uma parte do problema já estava resolvida! Ainda por cima, sendo a legislação europeia publicada em todas as línguas comunitárias, nem me precisava de preocupar com a tradução.

Fiquei ainda mais entusiasmada quando descobri que um dos tipos de objecto geográfico considerado tinha a categoria temática “Sítios protegidos”. Ok, já sabia que os atributos teriam mais a ver com a protecção legal do que com a caracterização histórica e contextual dos ditos objectos, mas havia regulamentos com listas controladas de terminologia. Fantástico!

Comecei por consultar em inglês e verifiquei que a lista de códigos autorizados para “NationalMonumentsRecordDesignationValue” era sensivelmente a mesma do NMR Monument Type Thesaurus . Pois claro. Os senhores doEnglish Heritage há anos que se fartam de trabalhar para nós, a produzir normas sólidas e bem fundamentadas, só se o legislador europeu fosse estúpido é que se ia por a inventar coisas diferentes.

Foi com entusiasmo que segui a ligação para a publicação em português deste regulamento, já que, também há anos, ando a dizer que a solução de muitos dos problemas de gestão de informação relativa ao património cultural português passa por… traduzir os thesauri e as normas do English Heritage.

E a tradução portuguesa foi um balde água fria neste entusiasmo todo. Ainda sou capaz de aceitar algumas imprecisões que resultam da opção de uma tradução demasiado literal das definições, mas como é que é possível traduzir:

The Protected Site is classified as a settlement under the National Monuments Record classification scheme

por

O sítio protegido é classificado como monumento ligado à colonização no âmbito do sistema de classificação do Registo de Monumentos Nacionais

??!

É verdade que a expressão settlement é lixada. Aliás, curiosamente ou talvez não, é a única expressão desta lista que não faz parte das Classes do NMR Monument Type Thesaurus. É uma expressão que os arqueólogos adoram: serve para quase tudo, sobretudo para aquilo em que não há dados suficientes para classificar de outra maneira…

Os anglo-saxónicos são muito mais práticos e económicos na linguagem que nós, por isso settlement resulta na perfeição. Em português, assentamento não é bem a mesma coisa… Embora haja muitos colegas meus que usem a expressão no sentido de settlement e os espanhóis tenham incorporado essa asserção sem problemas no castelhano. Podia ter sido traduzido como assentamento. Podíamos ter feito como os franceses [établissement humain]  e usado a expressão “estabelecimento humano” ou, embora mais comprido mas mais claro, “área de ocupação humana”; ou como os italianos [insediamento (settlement)] e os romenos [așezare (settlement)] que, pelos vistos, também não se sentiram confortáveis com a tradução e incluíram a expressão inglesa entre parêntesis.

Mas nunca, nunca, traduzir settlement por colonização. É que nem nos tradutores automáticos que usei na internet tive esse resultado. Como é que isto é possível quando a própria União Europeia tem uma base de dados de terminologia em que se encontram propostas bem melhores para a tradução do termo?!

Traduzir settlement por colonização está para além da incompetência: é uma vergonha.

Sinto-me envergonhada porque falo português mas também porque sou arqueóloga. Talvez haja asneiras relativas a outras áreas temáticas e eu só dei conta desta porque é exactamente da minha disciplina. Mas não me pareceu. Infelizmente, estou habituada a que a área do “Património Cultural” seja sempre a que é tratada de forma menos rigorosa e profissional. E menos normalizada.

Os “tipos da cultura” em Portugal são avessos a normas. Vimos maioritariamente das Faculdades de Letras e isso não ajuda muito a uma abordagem mais técnica e científica da nossa profissão.  Há muitos anos (quase antes de Cristo), no primeiro encontro a que fui sobre “Normalização em Museus” em Guimarães, ouvi dizer num debate: “Nós não podemos cortar a criatividade dos nossos técnicos pondo-os a fazer inventários!”

Inventários, normas, sistemas de informação são chatos de fazer. Mantê-los então é do pior… É muito mais fácil e divertido dizer “o meu trabalho é muito específico, isso não me serve.” E assim se vão acumulando dados que só são úteis para quem os recolheu e, mesmo para essa pessoa, frequentemente só uma vez: novo projecto, nova viagem, a informação recolhida antes também não serve… Pode ser fácil rejeitar a normalização como princípio, mas dá muito mais trabalho a médio e longo prazo.

Fiquei um bocadinho triste com esta história da tradução, mas vale a pena seguir os princípios da directiva INSPIRE * também no que diz respeito à informação relativa ao Património Cultural, tenha ou não expressão espacial. Sobretudo o primeiro, aquele que diz “Data should be collected only once…“

Maria José de Almeida

* a ligação é para o documento original porque, custa-me dizer mas é verdade, a tradução portuguesa no portal do SNIT também não é a mais feliz…

Os salteadores do museu escondido – Maria José de Almeida

Os salteadores do museu escondido – Maria José de Almeida

Não me lembro quando terei entrado no Museu Nacional de Arqueologia (MNA) pela primeira vez. Cresci em Lisboa e a minha mãe sempre teve nos museus da cidade poderosos aliados contra o tédio de quatro crianças – mais primos e amigos de visita – nos longos verões escolares dos anos 70. Devo ter ido ao MNA pela primeira vez em criança e não me lembro.

Mas lembro-me bem quando entrei pela primeira vez na reserva do MNA. Estava na faculdade e um dos professores levou-nos em “visita de estudo” ao MNA. Recebeu-nos o então director, Francisco Alves, que nos fez uma visita colorida e pitoresca, da qual recordo comentários dramáticos proferidos (fisicamente) sobre restos osteológicos provenientes do naufrágio do navio S. Pedro de Alcântara. Mas o golpe de teatro estava reservado para o fim. Concentrou todos os estudantes junto da modesta porta da reserva e, rindo muito com aqueles olhinhos pequenos, disse: “Lembram-se da cena final do filme Salteadores da Arca Perdida?”, e escancarou a porta.

Entrei muitas vezes na reserva do MNA depois disso, mas nunca vou esquecer a imagem que vi nesse dia. Era, efectivamente, uma imagem épica digna de Hollywood mas para mim foi a primeira imagem, real, de um museu. Por dentro, pelas entranhas, pela alma. Pelos serviços técnicos, portanto.

Reformular, e eventualmente relocalizar, o MNA é urgente. Urgência com décadas de atraso, mas nem por isso menos necessária. Do MNA já se disse que era o maior sítio arqueológico português mas só quem alguma vez lá trabalhou tem noção do que isso quer dizer: cem anos de erros insignificantes acumulados podem significar que, para encontrar alguma coisa, se tenha que recorrer a métodos e técnicas próprios da disciplina. O manancial de informação que o MNA contém é brutal e o que se encontra bem conhecido e estudado é um grão de areia, senão no deserto do Saara, pelo menos na praia da Figueira da Foz. E não falo apenas de artefactos, utensílios e ecofactos recolhidos em sítios arqueológicos. Falo num mundo de documentação nos mais variados suportes – incluindo naturalmente os “objectos arqueológicos” – que representa informação essencial para a construção da nossa memória colectiva.

A responsabilidade com que deve ser encarada a reforma deste museu deve ser proporcional à informação que ele guarda. Por isso custa tanto pensar que a anunciada transferência do MNA para o edifício da Cordoaria possa estar a ser encarada como uma manobra política sem a necessária fundamentação técnica. Sei que a Ministra da Cultura visitou o MNA recentemente e acredito que o actual director a tenha levado também à reserva. Terá ela visto o mesmo que eu? Terá ela noção de que tirar aquilo dali não é exactamente a mesma coisa que contratar os “Unidos da Transportadora” para fazer uma mudança doméstica?

A mudança do MNA pode ser uma oportunidade fantástica. O oportunidade de reformular o museu com a dignidade que ele merece. A oportunidade de organizar todo aquele mundo de informação de uma forma eficaz e operativa: para nós e para quem precisar do MNA depois de nós. A pergunta que qualquer cidadão responsável deve fazer é se o Ministério da Cultura tem consciência das implicações técnicas – e, já agora, financeiras – de transformar esta oportunidade em realidade. Ou se prefere ignorá-las e decidir irresponsavelmente sobre a casa que guarda uma parte tão significativa da nossa memória. Enquanto não tiver a certeza que o Ministério da Cultura vai tratar o MNA de uma forma responsável esta cidadã, pelo menos, não vai ficar descansada.

Maria José de Almeida(arqueóloga)

2010-03-31