O mistério dos “números em falta” e outras histórias em torno do identificador único* – Maria José Almeida

O mistério dos “números em falta” e outras histórias em torno do identificador único* – Maria José Almeida

Quem nunca ouviu falar em “números em falta”? Eu não vos vejo, mas imagino que se pedisse que levantasse o braço quem nunca ouviu falar desta coisa veria… muito poucos, se não mesmo nenhum braço levantado. Todos já nos deparamos com alguém muito aflito porque “faltam números de inventário!”, porque “há um salto do 103 para o 109!”

O que são estes misteriosos “números em falta”? São, muito singela e matematicamente, quebras numa sequência de números naturais. E, tradicionalmente, o identificador único dos objectos nos museus é expresso por um número natural, atribuído sequencialmente. Mesmo quando o “número de inventário” não é um número (e isso dava outro texto neste blog), há sempre uma parte, ou partes, da codificação que são conjuntos de algarismos e espera-se que esses respeitem a sequência dos números naturais.

Porquê? Porque a forma mais simples, e consequentemente mais eficaz, de atribuir um identificador único a qualquer coisa é usar um número. Um número é inequívoco, nunca se acabam os números. E a sequência natural dos números, nem podia ser de outra forma, é a sequência dos números naturais. Podia ser a sequência de números primos ou a sequência de Fibonacci? Podia, mas não dava tanto jeito.

Quando os inventários eram feitos em fichas de papel, arrumadas em caixas, os mecanismos de controlo para assegurar que o identificador único fosse, de facto, único, eram complexos e exigiam bastante esforço. O menos mau deles todos era a verificação das sequências: a identificação de “números repetidos” e “números em falta” podia indicar a existência de erros e era um bom alerta para ir verificar o conteúdo das fichas em causa. Também servia para saber que entre x e y tinha havido instruções para que se registasse de uma maneira aquilo que de z a w foi registado de outra, e por aí fora. Claro que não era infalível e dependia muito da capacidade e memória de quem fazia estas verificações. Por exemplo, eu sou péssima nesse tipo de tarefas: sou capaz de ver o número de inventário de um objecto na secretária, levantar-me para o ir buscar e, quando chego à estante ou vitrina, já não faço ideia qual é. Mas a D.ª Margarida, funcionária do Museu Nacional de Arqueologia que conheci no século passado, era excelente: sabia de cor onde havia quebras nas sequências de números de inventário, o que é que significavam, e ainda tinha sempre uma história pitoresca para contar sobre o assunto.

Como o mundo tem mais pessoas como eu do que como a D.ª Margarida, e existem outras pessoas extraordinárias que desenvolvem soluções para os nossos problemas, a tecnologia de registo e tratamento da informação evoluiu e é nossa amiga. É tão amiga que hoje em dia é banal em qualquer aplicação ter mecanismos que atribuem automaticamente identificadores únicos que são, garantidamente, únicos.  Isto impede a repetição de números, mas não impede as quebras na sequência: se um registo é apagado, o número único que ele usava – porque é irrepetível – fica “em falta”. Isso não é um problema, mas a maioria dos utilizadores reage como se fosse. Deve haver uma explicação neurolinguística qualquer para este incómodo causado pelas quebras de sequência. Com a quantidade de gente a sugerir soluções para identificar essas quebras no identificador único em bases de dados, deve ser um sentimento comum.

Neurolinguística à parte, perde-se muito tempo com isto dos “números em falta”. Em tempos trabalhei num local onde havia um complexo esquema de identificação e redistribuição de “números vagos”: escusado será dizer que isso contribuía para a confusão total, para a multiplicação e reprodução caótica de erros, com os (infelizmente) habituais gritos dos (ir)responsáveis. O problema é que, associada ao “mistério dos números em falta”, costuma andar a “fobia da informação eliminada”.

Sim, é verdade. As quebras de sequência resultam de registos que foram apagados. E…?

Há um sem número de razões legítimas para apagar registos e, se vamos documentar todas as eliminações, perdemos muito tempo precioso. Valerá mesmo a pena fixar para o futuro a informação de que um registo foi apagado porque o utilizador o criou por engano? Ou para fazer testes? Não será melhor preocuparmo-nos antes se todos os registos descrevem da melhor maneira os objectos a que se referem ou se todos os objectos que temos à nossa guarda têm registo? A continuidade da sequência de números de inventário não garante nada disso. Podemos ter uma sequência “perfeita” de números de inventário mas de que é que isso nos serve, por exemplo, se nas respectivas fichas não há qualquer tipo de informação que nos permita encontrar os objectos no museu? Quando descobrirmos que foram roubados ou estão podres porque se encontram armazenados da forma errada, a integridade da sequência de inventário será certamente um fraco consolo.

Aqui já não há neurolinguística que nos valha. Aqui o problema é mesmo cultural: substituímos muitas vezes rigor por mesquinhez. A “fobia da informação eliminada”, da qual os “números em falta” são um sinal exterior, é a vontade de apontar o dedo ao erro alheio. Há quem diga que isso é uma herança da nossa longa ditadura, há quem diga que isso tem a ver com a matriz católica do pecado e da culpa. Mas eu percebo tanto disso como de neurolinguística… O que sei é de muita hora de trabalho desperdiçada a procurar e justificar os “números em falta”!

Não faço ideia como é que isto se resolve. Mas, se é expectável que haja sempre alguém que faça dos “números em falta” um problema, que tal quebrarmos a tradição do identificador único ser uma sequência de números naturais? Também não vale a pena usar a sequência de números primos, a de Fibonacci ou outra qualquer sequência infinita: haverá sempre um doido que usa uma folha de cálculo e umas fórmulas e vai dizer que também aí há “números em falta”. A minha proposta é mesmo que não seja uma sequência. O identificador único é um número atribuído aleatoriamente, irrepetível. Isso é difícil, engenheiros que me leem? (vamos acreditar que há uns quantos leitores deste blog que o são). É que se não for (ou mesmo que seja, o desafio da tecnologia é esse mesmo: resolver problemas independentemente do grau de dificuldade), talvez isso ajudasse a quebrar o enguiço. Aos poucos, os utilizadores de bases de dados deixavam de esperar que o número de inventário fosse “seguinte” ou “anterior”. Era só (?) um identificador único. Com tanta relevância para o conteúdo da ficha como o número das notas para as compras que fazemos.

* O título parafraseia o livro de Jorge Buescu O mistério do BI e outras histórias : crónicas das fronteiras da Ciência , cuja leitura se recomenda vivamente; o texto que dá nome ao livro pode ser lido integralmente aqui.

© Imagem daqui.

 Maria José de Almeida

Maria José de Almeida é licenciada História, variante Arqueologia, pela Universidade de Lisboa, tendo obtido o grau de mestre em Arqueologia Romana na Universidade de Coimbra. Actualmente integra o programa de Doutoramento em Arqueologia e Pré-história da Universidade de Lisboa, na especialidade de Arqueologia. É autora de vários artigos publicados sobre a temática da ocupação romana no território de Augusta Emerita. Entre 1996 e 2002 trabalhou no município de Santarém, desenvolvendo acções de arqueologia urbana em núcleos históricos. Foi responsável pela primeira fase da Carta Arqueológica de Santarém e pela organização da Reserva Municipal de Bens Arqueológicos. Foi comissária da exposição temporária De Scallabis a Santarém (MNA, 2002). Desde 2003 exerce funções na Câmara Municipal de Cascais, onde implementou o Sistema de Informação dos Museus de Cascais e coordenou a elaboração do respectivo Manual de Procedimentos. Ainda em Cascais, dirigiu o Gabinete de Arqueologia e, actualmente, desempenha funções na Divisão de Ordenamento do Território, tendo coordenado a integração do referido sistema de informação com a plataforma SIG da autarquia. Integrou os corpos gerentes da Associação Profissional de Arqueólogos (APA) desde 2002, tendo sendo presidente da direcção no triénio 2007-2009.

Curriculum detalhado aqui.

O Lugar dos Jovens nos Museus – Marta Ornelas

O Lugar dos Jovens nos Museus – Marta Ornelas

O debate “Museus Hoje e Amanhã: Qual o Lugar dos Jovens?” teve lugar na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva no passado dia 30 de Novembro de 2014 e foi organizado pelo colectivo de jovens FAZ 15-25.

Neste debate, para além de ouvirmos o testemunho dos jovens implicados neste colectivo, ouvimos também as propostas do Colectivo Tempos de Vista, do Programa de Estágios Jovens Animadores do Museu da Eletricidade, do Carpe Diem Arte e Pesquisa, da Escola Superior de Educação de Lisboa, do Professor Ricardo Bak Gordon e da artista Ana Vidigal. Todas estas pessoas e grupos explicaram-nos como é valioso trabalhar em conjunto com jovens, potenciando uma relação empática e engrenada entre estes e os museus. Para estes jovens foi possível desmistificar a ideia do artista como génio e do museu como espaço sacralizado, convertendo, tanto os artistas como os museus, em algo acessível e humanizado.

No espaço de debate concluímos que existem constrangimentos à frequência de jovens nos museus muito semelhantes aos das décadas de 60, 70 e 80, tal como nos contaram os adultos que nessa época eram jovens, nomeadamente a acessibilidade geográfica e intelectual, numa sociedade social e economicamente segregada. Relevou-se, no entanto, o importante papel da Sociedade Nacional de Belas Artes e da Fundação Gulbenkian, nos anos 70, na mudança de mentalidades e na criação de condições para a acessibilidade dos jovens ao mundo artístico. Referiu-se ainda que na década de 70 não existiam museus de arte contemporânea em Portugal.

Tal como nas décadas anteriores, hoje ainda se assiste a a uma forte presença de públicos jovens nos museus estrangeiros, ao contrário do que acontece em Portugal, onde as visitas de jovens a museus são pautadas pela intervenção da escola. A escola, no entanto, apresenta hoje muitas dificuldades em levar os estudantes aos museus, sobretudo por questões económicas relacionadas, não tanto com o custo da entrada nos museus, mas mais com o custo do transporte necessário para lá chegar. Estes constrangimentos implicam, muitas vezes, que as deslocações de escolas em visitas de estudo combinem a ida a vários museus no mesmo dia, algo que se torna cansativo para os jovens (tal como acontece com muitas outras pessoas não jovens que se submetem a este tipo de experiência), que acabam por ter um desfrute pautado pelo cansaço e consequente desinteresse.

Os participantes adultos no debate contaram-nos como na década de 80 os visitantes eram acarinhados nos museus estrangeiros, tendo tido, por isso, a possibilidade, enquanto jovens, de usufruir de experiências mais interessantes fora do país.

Relevou-se a importância dos Serviços Educativos para uma maior abertura dos museus aos jovens, salientando-se ainda o facto de os museus públicos contarem com verbas menores do que as dos museus privados para o sector educativo. Assim, este factor compromete a qualidade da resposta que os museus públicos podem oferecer, sobretudo pela escassez de recursos humanos.

Houve ainda vozes que se manifestaram pela importância do papel das universidades como instituições formadoras que deveriam ser mais activas e ter um papel mais relevante na relação com as comunidades, nomeadamente com as instituições culturais.

Referiu-se ainda o desinvestimento governamental que nos últimos anos tem sido feito na Educação Artística, facto que compromete a acessibilidade de todos os jovens, deixando lugar a que apenas aqueles cujas famílias valorizam as componentes artísticas da sociedade e que possuem situações económicas sustentáveis possam, de forma regular, participar em actividades artísticas, seja nos museus ou noutras instituições que trabalham com pressupostos artísticos.

Ainda que, neste contexto, haja poucos jovens com interesse em áreas culturais e artísticas, salienta-se o esforço de muitos educadores que continuam a levar os seus alunos aos museus, algo que deve ser um trabalho contínuo, tanto quanto possível.

Foi também referido que muitos museus não têm sensibilidade para atrair os jovens, na medida em que continuam a optar por modelos tradicionais de visita guiada, em regime de fala-escuta unilateral, muitas vezes em tom monocórdico e sem lugar à participação colectiva. Referiu-se o termo “visita mediada” como algo diferente e mais aliciante. Por outro lado, o projecto expositivo tradicional do “quadro na parede” também parece não ser muito atractivo para os jovens, requerendo-se também novas ideias para expor.

Apesar de haver algumas opiniões contra a ideia de que o museu possa expor em locais públicos, como por exemplo em centros comerciais, os jovens referiram que este tipo de inicativas é positivo, pois o museu deve ser levado “à praça pública”.

Concluímos também que a importância dada à participação dos jovens na programação dos museus é, em Portugal, ainda um pouco negada, embora estes projectos pontuais possam ser o motor de iniciação a novas práticas, implicando os jovens de forma a que valorizem as áreas culturais e artísticas, atribuindo-lhe um papel emancipador e transformador.

Colectivos, plataformas artísticas, serviços educativos, residências, redes e parcerias parecem ser palavras-chave para atrair os jovens aos museus. Os museus devem, então, manifestar interesse numa abertura a novas propostas que considerem, valorizem e integrem o pensamento dos jovens.

Os organizadores deste debate fazem parte do FAZ 15-25, um colectivo de jovens entre os 15 e os 25 anos com formação em áreas diversas que estão envolvidos na programação da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva. Possibilitando uma flexibilidade no grau de envolvimento de cada membro do colectivo, o FAZ 15-25 tem como objectivo dar oportunidades aos jovens para se implicarem na concepção e prática de actividades que lhes permitam desenvolver competências artísticas, de organização, de comunicação e de empreendedorismo. O colectivo trabalha directamente com profissionais de várias áreas artísticas e convive com os visitantes do museu. Desenvolve ainda redes sociais, blogs e apps, também com o intuito de chamar ao museu outros jovens.

A participação dos jovens na programação do museu parece ser uma importante mais-valia do FAZ 15-25. A coordenadora deste interessante projecto, Filipa Alves de Sousa, explica-nos a importância de uma metodologia para o programa que implica, por um lado, ter as necessidades e interesses dos jovens como ponto de partida para a programação, e por outro lado, a responsabilização dos membros envolvidos. O programa tem que ser flexível, aberto e com uma dinâmica social, ao mesmo tempo disciplinado, estruturado e com estratégias bem definidas. O seu papel como coordenadora é ser a mediadora entre o grupo e o Museu e fazer com que as coisas aconteçam. Para isso, é necessária uma mentoria próxima com os membros do colectivo, bem como a preparação de conteúdos atractivos. Um dos principais objectivos do projecto é também proporcionar momentos de encontro e conversa informal entre profissionais inspiradores, já que os jovens são muitas vezes movidos por pessoas com histórias reais que quebrem barreiras sociais e hierárquicas e lhes apresentem possibilidades de percursos pessoais e profissionais.

Alguns jovens deram-nos o seu testemunho, que aqui reproduzimos:

“Para mim, o mais importante tem sido o trabalho em equipa. Eu ando há muito habituado a trabalhar sozinho, individualmente, e não gostava tanto de trabalhar em equipa. O FAZ incutiu-me o gosto de trabalhar em equipa, em colectivo. Tudo o que fazemos é em grupo. O trabalho individual é, aqui, um conceito estranho. As experiências, além de contínuas, são intensas e destacam-se pela partilha de conhecimentos e a fluidez das ideias. Descontraidamente dedicados, trabalhamos.” (Pedro, 25 anos – Licenciado e Pós-graduado em Antropologia)

“A mais-valia tem sido a oportunidade de desenvolver trabalho na dinamização cultural num contexto. Aprendemos uns com os outros, há uma inter-ajuda. É a possibilidade de ser num contexto e não sozinhos e ter esse apoio tem sido um factor diferenciador.” (Sofia, 21 anos – Estudante de Design de Equipamento)

“Eu estou aqui há pouco tempo, há um mês. Mas aquilo que eu procuro no FAZ, e que tenho encontrado até agora, é ter espaço para expormos as nossas ideias. Nós borbulhamos ideias todos os dias. Aqui podemos partilhá-las e ter um espaço para desenvolvê-las, sermos ouvidos e fazermos coisas. Tornarmo-nos activos, tornar essas ideias em realidade, em coisas concretas.” (Rebeca, 24 anos – Licenciada em Jornalismo e com um Curso Profissional de Fotografia)

“O que mais me tem feito sentir realizada por estar no FAZ foi poder tomar consciência de competências que eu já tinha, mas que tinham sido pouco desenvolvidas, como é o caso da competência para falar em público, através da realização de visitas guiadas. Fazer visitas guiadas no Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva foi uma forma de eu perceber que era, de facto, capaz de falar em frente a uma assistência. Isso foi muito importante para mim, perceber que competências é que eu tenho a dar ao grupo e ao Museu, para além daquilo que eu tenho a aprender com colegas de outras áreas, como por exemplo dos audiovisuais, ou colegas mais novos, como a Beatriz C. e a Daniela, cuja cultura geral, entusiasmo e maturidade me supreenderam muito.” (Inês, 24 anos – Mestre em História de Arte)

“Aquilo que considero fulcral no FAZ é a bagagem que nos dá, não só a nível de responsabilidade, pois temos de contactar com o público, mas também ao nível do trabalho em grupo, que não é uma coisa a que esteja propriamente habituada. Para além destes factores, foi muito bom encontrar pessoas com os mesmos interesses que eu e com vontade de mudar aquilo que são os museus em Portugal actualmente. O FAZ trouxe mais à minha vida do que eu esperava, para além da vontade de fazer coisas diferentes no âmbito museológico, trouxe-me amigos.” (Margarida, 22 anos – Mestranda em Museologia)

“O que me fez vir para o FAZ foi poder colaborar com um museu de que gosto, e poder fazê-lo entre amigos. Comecei por ir a uma sessão Conversa com Eles com uma amiga após a qual os actuais colegas foram carinhosamente chatos com o ”vem vem”! Quanto às mais-valias do projecto, acima de tudo experiência, a diferentes níveis, e oportunidades de formação gratuita ou com desconto associadas ao networking no mundo artístico.” (Paula, 24 anos – Licenciada em História de Arte)

“Juntei-me ao FAZ por sugestão de uma amiga e o que me prendeu desde logo foram as reuniões. Nas Conversas com Eles temos oportunidade de falar com pessoas da área cultural e artística e há uma enorme partilha de experiências e aprendizagem do mundo real, entre aspas. Eu sou da área das Humanidades e das Artes e o FAZ complementa a minha formação, porque nos põe em contacto directo com o Museu. Acaba por ser uma parte prática que a faculdade não me dá. Aqui temos a liberdade para elaborar projectos relacionados com os nossos interesses e temos contacto com o público. É um grupo que, apesar das várias áreas de formação, temos todos o mesmo interesse e acho que isso se sente cada vez mais na união do colectivo. Nós somos um grupo de jovens que quer mudar e dinamizar esta ideia de Museu que há em Portugal e aqui nós temos um sítio onde somos ouvidos e apoiados nas nossas ideias. O Museu acaba por ganhar com isso, já que nós fazemos de tudo para atrair todos os tipos de públicos, principalmente os jovens como nós.” (Teresa, 22 anos – Estudante de Licenciatura em Estudos Artísticos)

“Há duas razões maioritárias que me mantêm aqui. Primeiro porque temos acesso a artistas em conversas informais. Por isso, a maneira como falamos e exploramos aquilo que queremos saber é completamente diferente. E segundo, porque participamos em várias coisas no museu. E isso permite-nos ver o que é que está por detrás do pano, o que é que se passa, como é que as coisas acontecem. Isso é muito importante para quem está no mundo das artes. Tem sido fantástico até aqui, estou sempre a aprender! Com a ajuda da Filipa e do museu, damos ideias e fazemos as coisas à nossa maneira. Somos nós que tentamos, ao máximo, contribuir com o nosso trabalho.” (Daniela, 17 anos – Estudante de Artes Visuais no Ensino Secundário)

“As mais-valias deste projecto são para mim a possibilidade de contactarmos com pessoas que à partida estão muito distantes de nós, como por exemplo artistas, curadores, designers… É muito importante perceber os percursos deles e perceber que nem sempre foram percursos lineares. Estar aqui no museu, ter acesso a esta realidade permitiu-me perceber muita coisa. É que a museologia teórica que aprendemos na faculdade é uma coisa, estar aqui é outra completamente diferente. As conversas que nós temos com o público que denominamos Conversas Connosco ensinaram-me muitas coisas, entre elas a ter um maior à-vontade para falar em público. A colaboração com os artistas foi também uma das experiências mais importantes para mim, nomeadamente a participação em performance. Aprendi muito no contacto com os meus colegas, que são maioritariamente das áreas das artes, mas de escolas e cursos diferentes. A multiplicidade de perspectivas no grupo contribui de facto para o enriquecimento dos nossos projectos. São projectos que nós pensamos, estruturamos e gerimos durante as nossas reuniões, mas que só são possíveis com a ajuda do museu.” (Teresa, 24 anos – Estudante de Licenciatura em História de Arte)

Mais informações sobre projecto FAZ 15-25 estão disponíveis na internet através de diversos canais, como o Facebook, o WordPress ou o YouTube. São recursos criados pelo colectivo e que podem ser consultados mediante uma pesquisa simples por “FAZ 15-25” num motor de busca como o Google.

Marta Ornelas é doutoranda em Artes y Educación – Pedagogías Culturales en Museos na Universidade de Barcelona. Foi professora de Artes Visuais no ensino secundário e no ensino superior e tem uma especialização em ensino de artes pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, em Lisboa. É licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e Mestre em Museologia pela Universidade Nova de Lisboa.

É membro da direcção da APECV (Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual) e membro fundador da Acesso Cultura. É também é membro da InSEA (International Society for Education Through Art), da Rede Ibero-Americana de Educação Artística e do GEM (Group for Education in Museums, UK). Coordenou projectos em escolas com a presença de artistas. Participou no projecto europeu ITEMS (Innovative Teaching for European Museum Strategies), com colegas de Itália, França, Hungria, Letónia e Luxemburgo. Coordenou uma equipa de trabalho para uma publicação sobre projectos escolares com museus, a ser editada pelo Ministério da Educação. Tem publicado artigos e apresentado comunicações no âmbito da educação artística e da educação em museus.

CIDOC 2014: Partilha via Facebook – Juliana Monteiro

CIDOC 2014: Partilha via Facebook – Juliana Monteiro

Nota de Alexandre Matos: o seguinte post, inserido no Speaker’s Corner, foi publicado antes no Facebook pela colega e amiga Juliana Monteiro. Assim que o li enviei à Juliana o convite para o publicar aqui no Mouseion e espero que gostem (como eu gostei de o ler), que vos seja útil e que possa suscitar a curiosidade de participar em futuras conferências do CIDOC. Obrigado Juliana pela partilha.

Prezados colegas,

Escrevo este post pois gostaria de compartilhar com todos vocês um pouco do que foi a Conferência Anual do CIDOC, realizada em Dresden/Alemanha durante os dias 6 a 11 de setembro. O tema deste ano foi Networking na Era Digital, buscando apresentar e problematizar o assunto através de diferentes sessões de comunicação, painéis, keynotes, sessões especiais e reuniões dos grupos de trabalho do CIDOC. Trata-se apenas de um post sem maiores pretensões – mais um relato de impressões, a partir do que pude absorver deste importante evento.

Apesar da participação maior de profissionais europeus, em sua grande maioria da Alemanha, Áustria e outros países vizinhos, a Conferência deste ano – segundo o próprio CIDOC – teve um grande número de participantes de vários lugares do planeta, sendo talvez a maior conferência já realizada pelo Comitê em muito tempo. Eram pessoas dos quatro cantos do mundo mesmo, vindo de países como Armênia, Irã, Índia, Zâmbia, Brasil, México, Venezuela, Portugal, Israel, Grécia, Estados Unidos, China, Rússia e por aí vai.

Enfim, gentes diferentes, todos discutindo documentação e gestão da informação, em suas diferentes nuances e temáticas a partir do assunto central. Muitas dessas pessoas (inclusive eu) puderam participar devido ao auxílio de bolsas do Getty Foundation, que vale a pena ser destacado como uma fonte constante de auxílio. Além das múltiplas origens, havia também a variedade de perspectivas sobre o assunto: entre os participantes, havia os acadêmicos, os técnicos da área de TI, os documentalistas, os estudantes que gostariam de entrar para a área. Um universo desafiador, que se refletia bem nos interesses das pessoas em procurar por uma ou outra sessão de comunicação ou de grupo de trabalho.

Particularmente para mim, que fui pela primeira vez, a Conferência foi importante para verificar que não estamos sozinhos aqui em terras brasileiras no que se refere aos tipos de problemas enfrentados. Pois sim: a ausência de programas mais integrados, de ações sistemáticas de documentação, de continuidade de projetos e equipes não é um privilégio só nosso ou dos países da América Latina, África e Ásia. Os nossos colegas europeus também enfrentam situações muito parecidas com as nossas, incluindo também falta de recursos financeiros.

Participei particularmente das sessões de comunicação em que se discutiu a profissão de documentalista de museu e outra, que discutiu os processos de documentação em museus (workflows, sistemas e metodologias de catalogação, etc). Nas respectivas sessões foram apresentados o Programa de Treinamento do CIDOC que realizamos no ano passado e neste, pelo colega Gabriel Moore, e o trabalho de tradução e localização do SPECTRUM para a língua portuguesa, pelos colegas Juliana Rodrigues Alves e Alexandre Matos.

Na sessão sobre as questões profissionais, ficou muito claro que o documentalista dentro do museu precisa, cada vez mais, ter uma formação que o ajude a lidar com o universo digital. Mas, isso não quer dizer que ele deve saber tudo ou dominar tudo – pois isso seria, obviamente, impossível. Todavia, o termo “digital curation” (curadoria digital) tem sido cada vez mais associado ao fazer documental dos profissionais que lidam com a gestão de acervos, fazendo com que eles sejam recolocados numa posição central nos processos decisórios dos museus. Ou seja, o contexto atual exige que curadores, pesquisadores e documentalistas trabalhem em conjunto, pois caso contrário não se saberá nunca como utilizar a informação produzida sobre os acervos de modo que ela seja recuperada, apropriada e difundida amplamente pela internet.

A ênfase também na necessidade de criação de cursos específicos sobre documentação em museus me pareceu uma demanda, bastante presente na fala dos colegas europeus. Isto é: lá, a formação faz com que as pessoas muitas vezes estudem os museus já na pós-graduação, se tornando assim profissionais que buscam postos como pesquisadores especializados ou curadores. Mas, para lidar com as questões práticas do dia a dia e principalmente com os desafios da documentação, ainda não há formação específica nesta área (como foi o caso da Alemanha, por exemplo). E ficou a questão: como seria melhor resolver essa situação? Com cursos periódicos ou mestrados exclusivos sobre o tema? Questões para pensar…

CIDOC

Foto: Fabio Mariano Cruz Pereira, 2014.

No que se refere à sessão dos processos de documentação, foi interessante conhecer projetos como o AZ Infinitum, que apresenta a catalogação de azulejos em Portugal e possui uma metodologia muito interessante de abordagem dos espaços e deste tipo de material. Outro ponto interessante foi conhecer a experiência realizada pela Finlândia na localização do SPECTRUM. Questões bem parecidas com as enfrentadas pelo grupo do projeto SPECTRUM PT, que ao menos mostraram que temos mais gente nesse barco, com as mesmas dúvidas e proposições para o futuro. As imagens abaixo mostram um pouco deste momento:

CIDOC - SPECTRUM CIDOC - SPECTRUM

 

Fotos: Juliana Monteiro, 2014.

A Sessão Especial sobre o SPECTRUM, da qual também participei, permitiu conhecer mais da experiência dos noruegueses, que estão estudando a tradução e localização da norma. A metodologia utilizada por eles para diagnosticar o grau de pertinência da norma frente à realidade dos museus daquele país foi realmente interessante de conhecer!

Por último, dois pontos me chamaram também a atenção:

1)o projeto que está sendo proposta pelo Documentation Standards Working Group de criação de um dicionário e um glossário sobre prática de museus. O objetivo é apresentar outras visões sobre termos relacionados ao cotidiano da área, servindo assim como mais uma referência de trabalho. Quando questionado sobre a sobreposição desta publicação (que será feita em formato Wiki) com a “Conceitos Chave de Museologia”, o coordenador do WG disse simplesmente que esse dicionário e glossário não se pretende O dicionário, mas apenas ser mais um instrumento de trabalho – uma opção a mais para o profissional de museu. Talvez tenhamos algo bem interessante saindo disso – e já fizemos questão de garantir a língua portuguesa lá no meio! Quem quiser saber mais sobre isso, vale entrar no grupo do CIDOC no LinkedIn.

2) A criação de um novo Working Group, dedicado exclusivamente ao tema “patrimônio imaterial”. Eu não cheguei a participar das reuniões deste novo WG, mas também parece algo que merece ser acompanhado bem de perto, para saber como o CIDOC vai lidar com esse tema e, em paralelo, com a discussão sobre ontologias, websemântica e representação de conteúdo.

Para terminar esse loooongo post, fica a impressão de que o assunto “documentação em museus” têm mesmo se aproximado cada vez mais da questão central da gestão da informação sobre os acervos. E, como a Tanya Szrajber, do Museu Britânico, destacou na última keynote da Conferência (imagem abaixo), no final não importa que você, enquanto profissional/instituição, não domine todos os padrões, normas, ou tenha mesmo o melhor banco de dados do mundo. Desde que a preocupação com a gestão da informação sobre os acervos envolva uma sistemática, continuidade, lógica e organicidade, então ela estará sendo bem feita. E isso foi um alento, pois é sempre bom ouvir que há esperança no fim do túnel!

CIDOC

Foto: Juliana Monteiro, 2014.

A próxima conferência anual do CIDOC se realizará em Nova Délhi, na Índia. Ainda sem data certa, mas provavelmente em setembro de 2015, no The National Museum Institute of the History of Art, Conservation and Museology. Quem se interessar, vale a pena ir acompanhando o site do CIDOC para saber as datas e se programar.

Com certeza, foi uma experiência e tanto, que ainda estou tentando apreender na sua totalidade (rs). Isso também pela oportunidade de conhecer outras realidades, mas principalmente pela chance de conhecer pessoas, compartilhar experiências e abrir a cabeça para outras ideias e perspectivas.

Juliana Monteiro

São Paulo, Brasil – 18/09/2014

Juliana Monteiro é graduada em Museologia pela Universidade Federal da Bahia, especialista em Gestão Pública pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e mestre em Ciência da Informação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Atuou como museóloga do Museu da Energia de São Paulo/Fundação Energia e Saneamento e, desde 2008, trabalha na Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. Entre as suas atividades, está a coordenação do Comitê de Política de Acervo dos Museus da Secretaria e a administração do Banco de Dados de Acervo do mesmo órgão. Desde 2010, é professora do curso técnico de Museologia da ETEC Parque da Juventude/Centro Paula Souza, ministrando aulas sobre documentação e ética profissional. É membro do CIDOC-ICOM e da Comissão Editorial da Coleção “Gestão e Documentação de Acervos: textos de referência”, que publicou neste ano as traduções das Categorias de Informação do CIDOC e a norma SPECTRUM 4.0, em conjunto com parceiros portugueses Alexandre Matos e Museu de Ciência da Universidade de Coimbra.

Museus nas Redes Sociais. Guia Básico Para uma Futura Co-Participação Sustentável – Sandra Senra

Museus nas Redes Sociais. Guia Básico Para uma Futura Co-Participação Sustentável – Sandra Senra

Dando resposta ao desafio lançado por Alexandre Matos, no sentido de contribuir para o crescimento do seu Speaker´s Corner, e desde já agradecendo o convite que me dirigiu há quase um ano, optei por apresentar o meu contributo com uma temática sobre a qual tenho dedicado maior atenção desde há cerca de dois anos e meio para cá (e porventura de alguma forma previsível para o autor deste blogue), que se relaciona com as potencialidades que as redes sociais podem oferecer às instituições museológicas.

O conceito não é novo. Tem vindo a ser repetidamente proferido por reconhecidos palestrantes em infindáveis encontros, seminários e conferências. Já para não mencionar as incomensuráveis teses e artigos que dissecam a temática. Um lugar comum, como reiteradamente  e comummente o nominamos. As novas tecnologias transformaram a forma como vivemos e percecionamos o mundo. Uma afirmação que é uma inevitabilidade e à qual dificilmente nos podemos opor. E aqui podem inserir-se não apenas os engenhos utilitários, que nos descomplicam o dia a dia das nossas tarefas, mas da mesma forma aquele novo mundo dotado de ubiquidade a que apelidamos de Internet. E, na atualidade, não podemos falar de Internet sem versarmos sobre o tema das redes sociais, ou social media, um fenómeno vertiginoso que potenciou a conectividade e interatividade relacional entre usuários virtuais e sobre a forma como estes passaram a adquirir, a gerar e a partilhar informação.

O tema da utilização das redes sociais em museus é discutido há quase uma década (ou até há mais), mas persiste em captar o interesse de inúmeros investigadores por todo o mundo, que a este nível partilham e explanam os diferentes modelos de atuação dos museus aderentes. Por outro lado, continua a fomentar o surgimento de inúmeras plataformas de discussão online, que certificam as potencialidades destes novos instrumentos de comunicação e de partilha, gratuitos ou de baixo custo. Do mesmo modo, também as próprias instituições museológicas passaram a divulgar a originalidade dos seus programas desenvolvidos nestas plataformas, quer em apresentações públicas, quer nos seus próprios websites ou blogues de discussão, demonstrando as suas valências, mas igualmente as suas debilidades de utilização, por meio da apresentação de registos de avaliação, quer quantitativos como qualitativos.

A primeira questão que se pode colocar: qual o verdadeiro contributo das redes sociais para as instituições museológicas? As redes sociais são hoje plataformas singulares que convidam e agregam comunidades distintas, incitando-as a criar laços de amizade, a discutir as mais variadas temáticas, a gerar ideias e a produzir conteúdos diversificados, em formato de texto, fotografia, vídeo ou áudio. E é nessa diversidade de participação que reside a riqueza do conhecimento e da aprendizagem. Assim sendo, marcando presença nas redes sociais, os museus podem: aproximar a instituição das comunidades online por meio de uma conversação próxima; promover a participação das comunidades online, de forma multidirecional, interativa e colaborativa, considerando as suas representações heterogéneas; permitir a partilha de experiências e a construção de novos conceitos – inspirar os seus públicos; possibilitar a disponibilização e a receção de conteúdos em vários formatos; fidelizar públicos e construir novas comunidades; e também publicitar e divulgar conteúdos institucionais de uma forma massiva, dando resposta aos usuários virtuais interessados, por exemplo, nas suas exposições, programas, atividades ou conteúdos que disponibilizam, normalmente relacionados com as exposições e coleções, apenas acessíveis aos visitantes in loco.

A segunda questão que se pode colocar: quais são as principais características destas redes e como podem as instituições museológicas utilizá-las? Nos últimos anos têm surgido infindáveis plataformas de comunicação multidirecional, sendo que entre as mais populares encontramos o Facebook, o Twitter, o Flickr, o YouTube, o LinkedIn, o Delicious, o SlideShare, o Issuu, os Blogues, as Wikis, o Foursquare, o Pinterest ou o Instagram. E são já muitas as instituições culturais por todo mundo que as utilizam como forma de potenciar a sua missão e objetivos. Estes organismos souberam compreender as suas potencialidades, não só pelo seu poder de alcance, mas igualmente pela possibilidade de poderem encetar uma conversação instantânea e permanente com os seus públicos e com eles partilhar e coproduzir novos conteúdos de informação e de debate. Importa, por isso, conhecer algumas dessas plataformas e compreender quais os proveitos que um museu pode alcançar com as particularidades de cada uma delas, para que no momento que seja eleita a rede na qual pretende estar presente, possam ser conhecidas as suas potencialidades e de que forma estas podem auxiliar o museu a dar cumprimento ao seu objetivo.

O Facebook permite publicar e partilhar textos, vídeos, imagens, mas também aprovar com “Gosto” os conteúdos de interesse. A interação é imediata e há a possibilidade de mediação nos conteúdos. Os museus podem utilizar esta plataforma para encetar uma conversação e discussão crítica com os seus usuários associados (amigos ou fãs), mas também como meio de interação e de partilha de ideias, que podem assumir um formato formal ou informal. O museus podem ainda divulgar os seus conteúdos institucionais, as exposições, as atividades, recentes e futuras, e demonstrar a dinâmica interna da instituição, por meio de fotos ou vídeos. O perfil empresarial (fan page) é aquele que mais se adequa às instituições culturais, pois não tem restrição no número de fãs, ao contrário da páginas de perfil pessoal, cujo limite é de cinco mil amigos.

O Twitter consiste num serviço de envio e publicação de mensagens instantâneas, com um número limitado de carateres, o máximo de 140, a que se designam tweetts. Os usuários deste serviço além de poderem publicar, têm a possibilidade de subscrever (ou seguir) publicações de outros usuários, comummente designadas por tweeps, e cujo conteúdo pode ser tornado público ou privado, de forma rápida e direta. Podem também fazer retweet, ou seja, replicar mensagens dos seus seguidores que considere interessantes, no sentido de partilhá-las com todos. Quando os usuários têm temas de interesse comuns e não querem perder informações sobre os mesmos, precedem a palavra do tema em questão com o símbolo #, denominado por hashtag. Os museus podem utilizar esta plataforma para divulgar instantaneamente as suas atividades. Têm também a possibilidade de fazer retweet a conteúdos interessantes publicados por outros usuários e seguir as suas publicações, tweeps, que podem relacionar-se, ou não, com a própria instituição.

O Flickr permite que os seus usuários armazenem fotografias, documentos gráficos ou vídeos, com vista à sua visualização e partilha com outros utilizadores. Os conteúdos são arquivados por meio de etiquetas, designadas por tags. Os museus utilizam esta plataforma para realizar intercâmbios de fotografias com os seus seguidores, muitas relacionadas com o edifício do museu, com as exposições ou atividades educativas que desenvolve, de um ponto de vista mais institucional ou informal. Podem também ser criados grupos com temas específicos para dar voz aos seus diferentes públicos.

O YouTube está ligado à comunicação audiovisual. Permite a publicação, visualização e audição de vídeos, pessoais, musicais, filmes, programas de televisão, etc. Nesta plataforma, os seus usuários podem interagir por meio de partilha de vídeos e de comentários aos mesmos. Os museus no YouTube podem interagir de forma imediata com os seus usuários através de comentários. Podem ainda publicar vídeos produzidos por si, quer sejam oriundos das conferências onde participa ou sobre as suas ações, como sendo das exposições, dos artistas, dos curadores, das obras, das atividades educativas, etc.

O LinkedIn consiste numa rede profissional para pessoas individuais, empresas e grupos de discussão. Os seus usuários podem associar-se diretamente a outros indivíduos, mas também a grupos específicos, de acordo com os seus interesses profissionais e conhecimentos que pretendem adquirir. Por outro lado, podem também procurar pessoas, oportunidades de trabalho recomendadas ou transformar-se em potenciais candidatos para determinados empregadores, que previamente avaliam o seu perfil público. O LinkedIn possibilita ao museu criar o um perfil com a sua missão, objetivos e interesses, e associar-se aos usuários da plataforma, dentro do mesmo âmbito profissional ou não. Permite que as instituições, sob a forma de membros, empresas ou grupos da mesma área, estabeleçam relações profissionais.

O Delicious alicerça-se no conceito de social bookmarking, que permite a gestão de endereços eletrónicos, que primitivamente eram armazenados nos computadores pessoais. Esta plataforma permite colecionar conteúdos da Web, sejam eles vídeos, fotografias, twetts, post ou artigos, e organizá-los por temáticas com diferentes designações (folksonomia – terminologia relacionada com a classificação livre de conteúdos), com vista à sua publicação e partilha com amigos usuários, que poderão participar, de igual forma, no crescimento dos conteúdos publicados, através do intercâmbio de informações. Um museu com Delicious pode compartilhar conteúdos através de bookmarks e os utilizadores dessa ferramenta podem permutar opiniões ou informações acerca dos conteúdos disponibilizados, sobre, por exemplo, temáticas relacionadas com as suas atividades. A popularidade do Museu pode ser determinada pelo maior ou menor número de tags (etiquetas) que possui.

O Slideshare possibilita a publicação de trabalhos em formato PDF, Word, OpenOffice ou de diapositivos PowerPoint ou Keynote. Estes conteúdos podem ser partilhados de forma pública ou privada. Os utilizadores de Facebook podem aceder sem necessitar de registo. Alguns museus utilizam esta rede para colocar online os PowerPoint que apresentam em conferências ou apresentações públicas sobre o museu e as suas ações, permitindo a sua leitura virtual e a possibilidade de as descarregar.

O Issuu permite a publicação digital de documentos em diversificados formatos, com vista à sua partilha para leitura virtual, à semelhança do Slideshare, mas também à sua descarga ou impressão. O Issuu permite folhear o documento virtualmente, sejam revistas, livros, jornais, catálogos, etc., de forma muitíssimo realista. Os usuários que pretendam consultar algum dos documentos referidos a partir do seu telemóvel, podem fazê-lo por meio de uma aplicação. Os museus utilizam o Issuu para publicar documentos com conteúdos sobre as exposições, artistas, obras e atividades educativas que desenvolvem, permitindo que todos tenham o acesso às mesmas.

Os Blogues possuem características que se assemelham às de um diário. Permitem a inserção de artigos diversificados, designados comummente por posts, sendo que a sua disposição se organiza por data de publicação e categoria dos conteúdos introduzidos, que podem assumir a forma de texto, imagem, vídeo ou links de páginas da Web. Os Blogues podem subsistir do ponto de vista unipessoal, mas igualmente corporativo. Ambas as tipologias possibilitam a participação ativa de outros usuários, conhecidos por bloguers ou bloguistas. Os Blogues podem ser utilizados pelos museus no sentido da divulgação dos conteúdos relacionados com as suas atividades, exposições ou de difusão da dinâmica interna do museu, mas também devem ser utilizados como plataforma de discussão crítica ou de acesso a outros temas de interesse, relacionados ou não com o perfil do museu, por meio de RSS (Rich Site Summary).

Nas Wikis a construção dos conteúdos é feita de forma colaborativa por internautas. Os seus colaboradores usuários podem criar, modificar ou apagar conteúdos produzidos, por forma a torná-lo credível. A plataforma mais conhecida que se fundamentou neste paradigma é a Wikipédia, uma enciclopédia coletiva que tem vindo a melhorar os seus conteúdos nas suas mais diversas temáticas. Alguns museus já conseguiram entender o poder da Wikipédia, apesar da inexatidão de muita informação que ali é colocada. Para evitar equívocos e imprecisões, e no sentido de contribuir para a correção dos conteúdos, os museus começaram a colocar as informações sobre a instituição e coleção (conteúdo histórico, artístico, cultural, geográfico, etc.), para que a informação passasse a ser oriunda de fonte fidedigna.

O Foursquare possibilita aos seus usuários procurar, localizar e compartilhar locais específicos com amigos usuários perto de um local onde se encontram, por meio de uma aplicação com um sistema de georeferenciação para ser implementada em serviços móveis. O Foursquare é muito utilizado como guia gastronómico e cultural. Nesta rede social, os usuários têm possibilidade a introduzir opiniões e recomendações sobre o que visitaram e contribuir para a partilha de informação e de experiências. Alguns museus utilizam esta rede, no sentido de serem mais facilmente localizados por visitantes ou turistas que possuam essa aplicação nos seus dispositivos móveis.

O Pinterest permite que os seus utilizadores publiquem as fotografias que produzem, por forma a que as mesmas sejam partilhadas com outros usuários. As fotografias podem ser organizadas por álbuns de coleção temáticos (boards) e com informação acrescida. Os usuários desta rede podem interagir com outras comunidades em rede através do Twitter e do Facebook. Os museus podem fazer uso desta plataforma, organizando as suas coleções com informação sobre as mesmas e armazenando-as por conteúdos temáticos, com a finalidade de partilhá-las com todos os utilizadores.

Por fim, o Instagram possibilita a colocação online de fotos a partir de dispositivos móveis, facilitando a inserção de vários filtros fotográficos, sendo que a sua publicação nas redes sociais é instantânea. Os museus podem fotografar as suas coleções ou as atividades a decorrer nesse instante nos seus espaços, por meio deste tweett fotográfico, e publicar nas redes sociais a que estão associados, para que as mesmas possam ser divulgadas e comentadas.

A terceira questão que se pode colocar: quais são as premissas a ser consideradas antes da adesão das instituições às redes sociais? É importante que a instituição museológica defina muito bem os objetivos que pretende atingir com as redes sociais. E estes devem anteceder a adesão às mesmas. É certo que existe um certo constrangimento da sociedade para que as instituições estejam presentes nestes espaços de conversação, todavia se a instituição possui uma estrutura reduzida que não garanta o futuro da interação e conversação, o propósito da presença nas redes sociais anula-se. É, por isso, necessário preceder a adesão às redes com uma estratégia sustentável, que deve conciliar-se com próprios recursos da instituição. Assim, os museus devem refletir primeiramente sobre as seguintes questões.

1. Que motivações e contextos conduzem o museu a aderir às redes sociais?

2. Serão reposicionados os princípios e os valores da missão e objetivos do museu? De que forma?

3. Que departamentos vão estar envolvidos na elaboração da estratégia e na continuidade do projeto quando implementado? Haverá uma relação interdepartamental?

4. Qual o grau de participação das comunidades externas na construção da estratégia?

5. Como funcionará a gestão futura das redes? Quem irá  realizar a manutenção, atualização, criação, moderação e aquisição de conteúdos? Que tipo de conteúdos serão publicados? Qual o horário de publicação? Que idiomas? A publicação será diária ou faseada? Como serão recepcionados e avaliados os conteúdos produzidos pelos usuários? Como responder aos associados? Como incentivar à participação? Como reconhecer os erros da instituição? Como fazer a avaliação global desta participação, considerando os aspetos valorizáveis e os constrangimentos do programa, para poder reajustá-lo?

6. Que estratégias serão concebidas para encorajar as comunidades a participar?

7. A comunidade pode participar? De que forma? Essa informação é arquivada? De que forma?

8. A equipa contempla um gestor de comunidades mediador? Como será feita a mediação?

9. Haverá algum grupo preferencial a atingir? Qual ou quais?

10. De que forma será feita a avaliação dos impactos dessa participação?

11. Que benefícios o museu pretende alcançar com a participação das comunidades online?

Quarta, e última,  questão que se pode colocar: quais os fatores que possibilitam o sucesso dos museus nas redes sociais? A solução para o êxito dos museus nas redes sociais reside na necessidade verdadeira e despretensiosa em interagir com as comunidades online. É importante, por isso, que haja um consenso entre os valores do museu e os objetivos que pretende alcançar; que se eleja a ferramenta ou ferramentas que mais se enquadrem às necessidades do museu, para que haja sustentabilidade nas mesmas; que se considerem os recursos humanos e o tempo disponibilizado para se estabelecer a interação multidirecional; que se definam os limites da participação pública, sobre a forma, por exemplo, de um Termo de Utilização de determinada rede; que se estabeleça uma efetiva conversação com as comunidades, considerando os seus significados em relação a quaisquer conteúdos publicados pelo museu; que se considere a coparticipação, cocriação, co-curadoria, co-programação, no sentido de se valorizar as necessidades, experiências, histórias de vida, memória coletiva das comunidades online; que se construam programas específicos para diferentes grupos-alvo, pois programar para uma audiência abstrata é contraproducente, uma vez que museu pode não ter a capacidade de seguir e responder a todos os seus elementos;  que se implemente um modelo de gestão da equipa e dos conteúdos sustentável (dias e horas específicas para publicação, conversação etc., na eventualidade de não poder estar sempre online e assumi-lo publicamente em cada uma das plataformas); considerar a presença de um gestor de comunidades mediador, que deve ser conhecedor de algumas estratégias de marketing para cada uma das redes, mas também do marketing relacional (a propósito destas questões do marketing, existe uma imensa bibliografia sobre estas temáticas, como também são cada vez mais frequentes em ações de formação que auxiliam os museus nestes domínios); muito importante será também a avaliação dos sucessos e insucessos da instituição nas redes, com a finalidade de melhorar a atuação da mesma, o que implica que esta reconheça os seus erros; por fim, o museu deve saber aceitar que pode aprender e reaprender com os seus públicos e, assim, fazer parte da experiência da cidadania responsável, do serviço público e da cultura partilhada.

Cada instituição deverá avaliar como pretende estar online. Se existem muitos autores que defendem que estas podem e devem estar presentes em todas as redes sociais existentes, para que a capacidade de alcance dos conteúdos que a instituição disponibiliza seja amplificada, pessoalmente entendo que para se estabelecer um compromisso relacional online, que se espera que seja personalizado, fazer parte de todas a plataformas que pertencem ao universo 2.0 conduz ao padecimento e à dispersão desse diálogo. Sobretudo se considerarmos um museu com recursos humanos limitados. A génese das redes sociais consiste na interação multidirecional, que se espera que tenha significado para ambas as partes. Desse modo, mais importante do que ter um número infindável de amigos, para constar de páginas de ranking nacionais ou internacionais (ainda que seja esta uma das premissas que, infelizmente, tem determinado o valor de uma instituição), entendo que será mais valorizável considerar os valores e os significados gerados nessas redes entre a instituição e as comunidades, que se podem enquadrar nos princípios e valores da cultura repartida e da cidadania responsável, o que implica programar as suas ações com objetivos e sustentabilidade.

Sandra Senra

Alguns dos itens desenvolvidos no presente artigo de opinião resultam de uma investigação desenvolvida entre 2011 e 2012 que procurou avaliar a presença dos museus de Barcelona nas redes sociais, tendo sido particularizada a atuação do Museu D’Art Contemporani de Barcelona neste âmbito. Para mais informações:

SENRA, Sandra (2013), We Like MACBA. O Museu D’Art Contemporani de Barcelona e o Paradigma das Ferramentas Web 2.0 Utilizadas em Benefício do Compromisso Cívico. Porto: Universidade do Porto, Faculdade de Letras. Disponível em: http://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/66350

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© Imagem: Social Media Explained By Rocketfish Ltd

Sandra Senra – Licenciada em História da Arte (2004) e Mestre em Museologia (2012) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi Técnica Superior de História da Arte na Divisão de Património Cultural da Câmara Municipal do Porto, onde realizou o inventário da Arquitetura Religiosa Portuense e o inventário dos Elementos Cerâmicos, Decorativos e de Revestimento. Ainda no seu percurso profissional exerceu funções de curadora e gestora de eventos e exposições. Desempenhou funções de docente das disciplinas de História e Geografia de Portugal e de Língua Portuguesa. No âmbito do Mestrado em Museologia realizou um estágio curricular na Casa-Oficina António Carneiro e um estágio profissional no Museu Marítim de Barcelona, tendo em ambos desenvolvido um estudo e inventário de uma coleção de Pintura. Coordenou cientificamente o 3.º Volume da Monografia Digital Ensaios e Práticas em Museologia e atualmente administra e gere a plataforma Museologia.Porto.
Desde el Registro: las colecciones digitalizadas. El Registrador-Curador de Contenidos – Fernando Almarza Rísquez

Desde el Registro: las colecciones digitalizadas. El Registrador-Curador de Contenidos – Fernando Almarza Rísquez

La digitalización de colecciones museísticas, y su disposición pública en la web, genera un cuerpo de imágenes e informaciones relacionadas o “Contenidos”. Aquí interviene la figura del Curador de contenidos, involucrado más en el proceso de gestión de estos Contenidos que en la Curaduría clásicamente entendida. Este proceso gestiona informaciones y entradas Referenciales hacia esos Contenidos digitales.

Pero una atenta reflexión hace ver que el proceso de Curaduría de contenidos no se gesta ni opera únicamente en el nivel de ese imprescindible Curador, pues comienza desde la instancia del Registro de las colecciones. Consideremos aspectos que nos lleven hacia la figura del Registrador-Curador de contenidos: un Registrador que reflexiona sobre los paradigmas del museo en la actualidad, y sobre la digitalización de las colecciones y sus consecuencias positivas para usuarios y audiencias.

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Al gestionar colecciones museísticas, recordemos que todo objeto material conocido, cultural-artístico, científico-tecnológico o natural, tiene su nomenclatura y significa o puede ir significando algo. Y todo objeto tiene una triple dimensión: lo físico, lo que significa y el contexto; este último opera sobre las condiciones de lo que potencialmente puede ir significando. Ya he escrito sobre eso al hablar de un Registrador de colecciones crítico y pensante, y al hablar del contexto, en este artículo, y en el aparte “La importancia de la contextualización”, de este otro artículo.

En el Registro y Catalogación de colecciones museísticas esa triple dimensión se incorporada como información para los datos técnicos de cada ítem, abierta y evolutivamente: se registran los objetos y sus dimensiones físicas, más sus dimensiones de significación real y potencial. Se registra lo material, lo técnico, y su “aura” inmaterial. Los objetos no son neutros ni exentos de significado y contexto, de allí la importancia de Referencias que guían la entrada a esa información devenida en Contenidos, detonando potenciales narrativas de interpretación y curaduría por parte del museo y del público. Por ello debemos pensar en unos Contenidos abiertos y evolutivos, pues esos datos técnicos ampliados y esas Referencias generan los Contenidos.

No menos importante es la relación que hay entre las Referencias y el Contexto (también constituyente de los Contenidos), pues la potencia de éstos, pues citando a Néstor García Canclini, este Contexto “no se limita a la asignación de términos o conceptos ya hechos, como “cultura nacional”, “folclore”, “ciencia”, etc. Estas son más bien un mapa del terreno en el que discurren y van cambiando sus términos. Esto implica que las referencias detectan y recogen alguno de los puntos en los que un sentido o significación surgió en un objeto cultural, y también los otros puntos en los que se comparte socialmente, y cómo se puede seguir transformando ese sentido”. (García Canclini, véase. Negritas mías).

Por cierto, es paradójico que en los objetos materiales los significados, actuales o potenciales, conforman un “cuerpo” inmaterial, que se consustancia con aquellos objetos considerados inmateriales (oralidades, relatos, trascendencias, simbolizaciones, identidades). Aquí parecieran quedar borradas las fronteras tradicionales entre “patrimonio material” y “patrimonio inmaterial”; todos devienen entonces inmateriales aun cuando esa inmaterialidad, en tanto que información, se desprenda de la contundencia material de los objetos culturales-artísticos, científico-tecnológicos y/o naturales; conforman las otras dimensiones que todos los objetos tienen, en las que significan real y potencialmente. Esa “inmaterialidad final”, esa información, es la esencia de los Contenidos, que ya vienen siendo gestionados y (pre)curados desde el Registro de las colecciones.

En tanto que información disponible, ésta llega a las audiencias como comunicación: se ha pasado del objeto a la comunicación del mismo y a la recepción de esta comunicación por parte del público usuario. Aunque es pertinente aclarar que esa comunicación nunca sustituirá la contemplación o la experiencia presencial del objeto, aunque con ella se abren alternativas avenidas de Referencias de acceso, compartición de Contenidos y bien entendidas reapropiaciones.

Recientemente escribí una referencia sobre ello en colecciones naturales, y otra en colecciones artísticas (actualmente en prensa: Walter Benjamin reconsiderado: del Aura perdida al High Resolution). También publiqué sobre la tendencia hacia la digitalización de colecciones, que parte de grandes consideraciones, algunas acaso controversiales, pero de consecuencias positivas para el museo y sus audiencias. Estas reflexiones son imprescindibles en la gestión de colecciones, en el proceso que va desde el Registro hasta la digitalización y la Curaduría de sus contenidos. Es gestión de colecciones, de Contenidos digitales, y de Conocimiento, pues es la información generada por las colecciones transformada en Referencias de conocimiento útil e información disponible para todos.

El Registrador se involucra a fondo con las informaciones, documentos, gestión, depósito y seguimiento de las colecciones del museo, y comparte conocimiento y acciones con la instancia de Conservación, ya que es en parte un Conservador preventivo. Y también se involucra con la gestión y (pre)Curaduría de contenidos. Es aquí donde el Registrador actúa, detectando, leyendo y gestionando también esa ya referida múltiple dimensión de los objetos; este funcionario museístico es muy activo en la Curaduría de Contenidos que nos ocupa[1].

Destacando integraciones y correspondencias entre el Registrador de Contenidos y el Curador de Contenidos, refiero el artículo del uruguayo Ariel Barrios “De qué hablamos cuando hablamos de curación de contenidos en los museos”, publicado este mes de agosto en su blog. Buena parte de las consideraciones que hace Barrios al hablar de Contenidos está presente en lo que postulan las ya mencionadas entradas Referenciales a los objetos, asignadas desde la instancia de Registro y Catalogación de las colecciones. Estas integraciones y correspondencias son una feliz y útil coincidencia. En cuadro comparo las consideraciones de uno y otro sobre la potencia de los Contenidos y las Referencias, citando a Barrios y a textos míos (negritas mías).

Curador de Contenidos y sus Referentes…

Registrador-Curador de Contenidos y sus Referencias…

[los] contenidos [son] no solo (…) los objetos de una colección, sino también [las] significaciones (actuales y potenciales) y contextos socio-culturales que a su vez implican modos de significar. Acercan al lector con los bienes de la colección, posibilitando simultáneos y diferentes niveles de significación, interpretación y contexto, individual y grupalmente.
Los contenidos son la estrella del momento. Su protagonismo crece a partir de la importancia que adquieren en las organizaciones para atraer, fidelizar, establecer relaciones con el público (…), [pues] permiten conocer que [sic] están haciendo de interesante otros museos o instituciones culturales aumentando el conocimiento sobre prácticas en el área. Permiten la visita virtual o presencial al museo cuyas colecciones generen muchas Referencias de entrada, “pistas” sobre objetos materiales, actitudes, gestualidades, roles sociales, y estilos o períodos históricos del arte, ciencias naturales, tecnología, valores, ideas, significaciones, usos, identidades.
(…) toma presencia la curación de contenidos, un proceso que integra varias acciones tendientes a filtrar, reunir, organizar y compartir contenidos digitales de interés sobre una temática. Su presencia fue determinante para construir narrativas, definir colecciones y establecer circuitos. Dan lugar a potenciales narrativas, interpretaciones y curadurías, o a un estudio individual de estudiantes de básica, media o universitaria, o a profesionales, curadores, críticos, antropólogos, arqueólogos, etnólogos o historiadores.
Se convierten en un referente en el área temática, visitar tus sitios por lo que tienes y por aquello que referencias, Son Referencias y temas abiertos para que un retrato pueda verse más que como un “Retrato”, y un objeto o un hueso más que un “Objeto” o “Hueso”, dando paso a imprevisibles sentidos, a partir de un término específico.
posibilitan una imagen de apertura al incluir otras voces, Se constituyen en herramientas de instrucción para llevar por medio de canales de receptividad a los observadores de los objetos hacia alternativas voces y nuevas verdades, sin controversia con las verdades tradicionales ya establecidas.
logra aumentar la empatía con las audiencias de la actual generación digital, acostumbradas a brindar valor a las prácticas de compartir información. Estimulan la imaginación, la discriminación y provocan el compartir el pensamiento crítico, promoviendo simpatía hacia los bienes ya no vistos ya como algo sacrosanto y de significados crípticos, sino que respondan a múltiples lecturas por parte de todos.
(…). Dan más visibilidad, si agregas contenido externo, seguramente otras instituciones te mencionarán y podrás aumentar el alcance de tu audiencia, [generando] mayor conversación, feedback y esto logra mejores relaciones. Ayudan a pensar desde lo conocido y visible de los objetos hacia lo desconocido de ellos, desde sus apariencias visibles, adentrándose en instancias subjetivas y espirituales,
Evaden prejuicios sobre “el arte”, las ciencias u objetos cualesquiera, abriéndose a nuevas verdades de apreciación, esforzando al pensamiento por medio de sugerencias y sugestividades, estimulando disposición receptiva y la memoria de significación e interpretación de la colección.

 

Destaco este paso inicial del Registro en la gestión referida, pues la asignación de significaciones comienza desde el momento en que el objeto de la colección es registrado, dando lugar a su catalogación y relación con los demás objetos de la misma. La mediación, detonación, estímulo y construcción de narrativas curatoriales potenciales ya referidas, y que también cito de Barrios, comienza acá.

En la actualidad se discuten terminologías de investigación y su relevancia para los sistemas de Documentación y Registro en los museos. Dentro de esas estrategias terminológicas se encuentran los términos de entrada o Referencias que forman parte indispensable de los Contenidos. El museólogo francés François Mairesse (a quien en líneas atrás referí) anda tratando el asunto, y así lo planteó en la reciente Conferencia General del ICOFOM celebrada en Río de Janeiro en este mes de agosto. Un porvenir optimista y de gran utilidad museística y social le espera a lo que planteamos en estas líneas.


[1] En otros escritos y cursos basados en mi experiencia profesional, desarrollo la noción de las Referencias y del Registrador Pre-Curador, que responde a las consideraciones referidas al comienzo de estas líneas, y a otras más extensas cuya extensión escapa a los alcances de este artículo.

Fernando Almarza Rísquez – Licenciado y MSc en Historia y Teoría del arte, más cursos de postgrado en Museología y Epistemología. Experiencia museistica desde 1986, como Registrador de colecciones, y asesor para esta área desde 1993. Docente universitario y articulista sobre temas museológicos. Profesor en el INSTITUTO LATINOAMERICANO DE MUSEOS de San José, Costa Rica, y Editor de la sección “Conversemos sobre…” de su website.

Co-fundador y co-editor del blog multilingüe Registrador Trek La Nueva Generación.
A distância que os separa – Maria Vlachou

A distância que os separa – Maria Vlachou

O Rijksmuseum disponibiliza 125.000 imagens de alta resolução de obras da sua colecção no Rijksstudio, uma secção interactiva no seu website que permite a qualquer pessoa descarregar estas imagens de grande qualidade para os fins que entender. O objectivo do Museu é adicionar todos os anos 40 mil novas imagens até disponibilizar online a colecção inteira. Lê-se num artigo no New York Times que, consciente da cada vez maior dificuldade em controlar a circulação e uso de imagens na Internet, o Museu, em vez de se agarrar a práticas, exigências e controlos de uma era que passou, considera de maior importância adaptar-se à nova realidade e procurar garantir a qualidade das imagens em circulação. Considera ainda que esta é mais uma forma de relacionamento entre as pessoas e a colecção. O Rijksmuseum pede aos utilizadores para se absterem do uso comercial das imagens, disponibilizando para compra fotografias com uma resolução ainda melhor. Através do mesmo artigo no New York Times, ficamos a saber que a National Gallery e o Smithsonian Institution seguem o mesmo caminho do Rijksmuseum.

Em França, a total proibição da fotografia no Musée d´Orsay (por razões questionáveis, como se poderá ver aqui) levou à criação de um movimento cívico, chamado Orsay Commons, que, através de acções que contrariam as regras instituídas, procura afirmar a oposição dos cidadãos perante a posição de um museu público que impede o acesso à colecção e pretende “ensinar” ao visitante a forma “aceitável” de se olhar para uma obra de arte.

Neste ambiente de debate aceso, a nível internacional, sobre a prática da fotografia nos museus, um debate que é exigido pela emergência de uma nova realidade, em constante desenvolvimento, no ciberespaço, à qual é preciso (urgente mesmo) os museus adaptarem-se, o Secretário de Estado da Cultura português apresenta-nos o Despacho nº 6891/2013, de 28 de Maio, relativo ao Regulamento de Utilização de Imagens de Museus, Monumentos, e outros Imóveis afectos à Direcção-Geral do Património Cultural. E assim, lê-se no despacho que “O presente Regulamento aplica-se a toda e qualquer utilização de imagens relativas aos edifícios e acervos dos Museus, Monumentos e outros imóveis afectos á DGPC, independentemente dos respectivos objecto, suporte e correspondentes formatos, finalidades e contextos de utilização.” (1.1); que “Os pedidos de cedência de imagens, captação de imagens e de filmagens devem ser formulados com uma antecedência não inferior a 15 dias.” (2.1), o que inclui “Os pedidos de captação de imagens (fotografias e/ou filmagem) para fins estritos de divulgação, sem fins comerciais…” (2.1.2); somos ainda informados (‘avisados’, diria) que “Qualquer utilização de imagens diversa da prevista no presente Regulamento, configura desrespeito pela legislação de enquadramento, designadamente o Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos, sendo passível de acção cível por parte da DGPC.” (3.7).

Uma das primeiras dúvidas que se me levantou foi o que é que se entenderá por “divulgação” neste despacho. Estaremos todos nós, que em websites, blogs e redes sociais, escrevemos sobre museus, partilhamos notícias sobre actividades e iniciativas, falamos de experiências vividas em âmbito profissional ou privado, fazemos críticas e comentários, todos nós que damos formação a profissionais da área, a prejudicar o Estado? Estaremos a prejudicar o cumprimento da missão da DGPC em particular, ao fazermos o que estamos a fazer e ao usarmos as nossas próprias imagens ou outras amplamente disponíveis na Internet, como no Google Art Project, onde já se encontram dois museus portugueses, ou no Wikimedia Commons? Estaremos nós a cometer um acto ilícito de divulgação à luz deste despacho; e, ao promovermos “ideias, princípios, iniciativas ou instituições”,  um acto ilícito de publicidade (14.1, nota 1)?

Uma dúvida maior ainda do que estas impõe-se: de que forma o actual debate a nível internacional sobre a prática da fotografia nos museus, e desenvolvimentos como os descritos no início deste texto, foram tomados em consideração na redacção do despacho assinado pelo Secretário de Estado da Cultura no passado dia 28 de Maio? Qual a visão que se tem para os museus portugueses no século XXI? Em que patamar é que a tutela os quer posicionar? Que relações se querem criar com as pessoas (os chamados “públicos”) e até que ponto foram considerados actuais hábitos e práticas na experiência de visitar um museu, literal e virtualmente? De que forma este despacho serve os museus e os cidadãos? Porque é que terei ficado com a sensação que nada disto foi tomado em consideração e que a distância que separa a tutela da realidade é mesmo muito grande?

Dean Mouhtaropoulos/Getty Images (via The New York Times)

Mais leituras
Carolina Miranda (2013), Why Can’t We Take Pictures in Art Museums?, in ARTnews.

Maria Vlachou (2013), Digam “Click!”, in blog Musing on Culture.

© imagem: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images (via The New York Times)

Maria Vlachou é consultora em Gestão e Comunicação Cultural. Autora do blog bilingue Musing on Culture, onde escreve sobre cultura, as artes, museus, gestão cultural, marketing e comunicação, públicos. O livro Musing on Culture foi editado pela BYPASS Editions em Março 2013. Foi Directora de Comunicação do São Luiz Teatro Municipal (2006-2012) e Responsável de Comunicação do Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva (2001-2006). Membro dos Corpos Gerentes do ICOM Portugal desde 2005 e editora do boletim trimestral Informação ICOM.PT. Membro fundador do GAM – Grupo para a Acessibilidade nos Museus. Foi coordenadora geral do primeiro estudo em Portugal sobre museus e público sénior. É Fellow no Summer International Fellowship Program em Arts Management do Kennedy Center for the Performing Arts (Washington, EUA; 2011-2013); é Mestre em Museologia (University College London,1994) e licenciada em História e Arqueologia (Universidade de Ioannina, Grécia, 1992).