É muito comum para mim revisitar museus com alguma frequência. Normalmente faço-o em visitas profissionais, ao “backstage” dos museus, nas quais sou frequentemente convidado a espreitar a parte pública acompanhado por um técnico ou pelo responsável da casa. Regalias da profissão que não me canso de agradecer. Menos comum é estar tanto tempo sem revisitar um museu, especialmente se for um museu de que gosto. Foi o que me aconteceu em relação ao Museu dos Coches.

A primeira vez que o visitei, como penso ter acontecido com a maioria das pessoas da minha geração, foi em contexto de visita de estudo. Coches, Jerónimos, Museu da Marinha, Museu Nacional de Arqueologia e Museu de Etnologia foram o percurso dessa visita, por volta de 1989, se a memória não me atraiçoa. Uns anos mais tarde, depois do curso de História, visitei-o com uns amigos. Uma segunda visita que me permitiu usufruir do museu com outra curiosidade e interesse. E depois, ao longo dos anos, voltei ao museu algumas vezes, por motivos profissionais ou pessoais, mas que raramente permitiram uma visita descontraída à exposição. Na semana passada consegui fazê-lo e pela primeira vez com a minha tropa atrás, ou seja, com a família.

Um pequeno ponto antes de falar sobre esta visita: não consigo compreender quem justifica a não ida a um museu com o carácter permanente das exposições dos museus. Eu descubro sempre algo de novo (e quando digo novo não quero necessariamente dizer bom), mas será sorte minha. Terei mais azar, certamente, num centro comercial.

A chegada ao Museu dos Coches não é propriamente a mais esplendorosa que existe ali em Belém, no entanto, eu aprecio muito o Jardim Afonso de Albuquerque e o próprio Palácio que embora não tenham a imponência dos Jerónimos, CCB, Praça do Império ou do Jardim de Belém, são monumentos que me agradam pessoalmente. A recepção do museu também não é o espaço mais acolhedor que esperaria de um museu com o elevado número de visitantes que normalmente este têm. Aliás, para um pai que conduzia um carrinho de bebé foi possível verificar um bom número de barreiras arquitectónicas. No entanto, a conversa inicial com o funcionário que estava na recepção responsável pela bilheteira, fez-nos esquecer as portas difíceis de abrir. “Os museus são as pessoas” e também as que lá trabalham, não é?

A exposição não me trouxe propriamente algo de novo, mas devo dizer que visitar o museu com os meus filhos e ter que lhes (principalmente ao mais velho) explicar um pouco sobre o que estávamos a ver se revelou um bom desafio. Não sei se estive à altura, mas a avaliar pela admiração e gozo com que viram os coches e os retratos expostos nas tribunas (o carrinho de bebé ficou estacionado perto da recepção) penso que não demos o tempo como perdido, julgo que foi um bom investimento.

O que ganhei de novo nesta visita ao museu foi ter conhecido e experimentado a aplicação “Coaches”, desenvolvida pela Exciting Space, que junta um guia de visita multimédia com um jogo de perguntas que nos vai permitindo acompanhar a visita aprendendo um pouco mais sobre a colecção e nos permite levar um pouco do museu para casa (uma boa ideia). Também ganhei algumas novas fotos do museu (galeria abaixo).

À saída do museu, confrontado com o novo museu que emerge em frente, dei comigo a pensar “será que o Museu dos Coches continuará a ser o mesmo depois de passar para ali?” A colecção não corre riscos de perder o seu brilho e estatuto de uma das melhores, senão mesmo a melhor, do mundo (embora precise de um importante investimento para a sua conservação), mas e a envolvência? O que será feito com o Picadeiro Real depois de o museu passar para as novas instalações? Voltará à sua antiga função? Terá uma ligação (eu acho que a devia manter) com o museu? Confesso que não tenho qualquer informação sobre este assunto, mas tenho a certeza que a próxima visita ao novo museu perderá uma grande parte do seu encanto.