“Indo directo ao assunto, António Rodrigues Mourinho, que deixa hoje a direcção do Museu Terras de Miranda,
acusa o Instituto Português dos Museus de ter promovido um concurso sem transparência para o afastar do cargo.
Num balanço de quase 20 anos de trabalho, o estudioso da cultura mirandesa mostra-se desapontado por não ter conseguido ampliar as instalações do museu.”

In Público, 10-01-2007. Por Ana Fragoso

É neste tom que começa a notícia e entrevista ao ex-director do Museu das Terras de Miranda que se pode ler na edição de hoje do Público. Desde já friso que não conheço nenhum dos intervenientes neste processo e, por esse motivo, a minha análise não pode ser considerada parcial. Mas ao ler esta notícia não pude deixar de questionar algumas coisas relativas aos museus portugueses.

Numa primeira análise interrogo-me porque é que está uma pessoa tanto tempo à frente de uma mesma instituição. Não são 20 anos muito tempo? Reparem que eu nem sequer posso ajuizar, ou julgar o trabalho desenvolvido ao longo deste tempo por aquele responsável, mas interrogo-me se alguma vez o IPM (agora ICM) propos objectivos a alcançar e se em algum momento posterior avaliou os resultados obtidos em função dos objectivos traçados.

Uma outra questão com que me deparo é a continuidade da apropriação do património dos museus por quem lá trabalha. Mais uma vez refiro que não conheço a pessoa, nem o seu trabalho (que terá todo o mérito certamente), que era responsável por este museu, mas não consigo compreender quem afirma que em 20 anos deixou ao museu peças que recolheu, anos de investigação e trabalho como se não fosse para isso que recebia (espero eu) o seu ordenado ao fim do mês.

Uma terceira questão são os concursos públicos para a escolha dos responsáveis dos museus. A mim também me parecem ser pouco transparentes. Os critérios de avaliação numa entrevista são sempre subjectivos e as entrevistas são tudo menos públicas (ao que me é dado a saber). Se é verdade o que refere na entrevista eu acho que António Rodrigues Mourinho deveria contestar este concurso. Quanto mais não seja para aferir pelas actas quais os critérios que levam à escolha de um licenciado em detrimento de dois douturados. Eu contestaria.

Ainda relacionado com esta questão dos concursos públicos gostaria de ver esclarecida uma questão que me perturba o sono. Porque é que apenas os funcionários públicos com vínculo é que podem ser directores de um museu? Ou de outra qualquer instituição do género? Querem saber quantas pessoas eu conheço que não são funcionários públicos e que dariam excelentes directores de museus?

Por fim gostaria apenas de dizer ao Doutor António Rodrigues Mourinho que para efeitos de gestão, friso de gestão, de um museu de etnologia ou de outro qualquer o importante é que a pessoa tenha conhecimentos de gestão! Friso… de gestão. Se o associar a conhecimentos na área técnica do cargo que vai ocupar tanto melhor, mas o cargo de direcção de um museu é, na sua essência, um cargo de gestão.